São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994 |
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Um bom dia para começar muita coisa
MATINAS SUZUKI JR.
Ah! Como seria bom se o calendário esportivo pudesse, como o lunar ou o solar, mudar o ciclo de nossas vidas. Tudo que é redondo, como o sol e a lua, aparece e desaparece sem pedir pra gente. A bola também. Entendo que a minha missão não é torcer. É o dilaceramento permanente desta profissão possessiva, exclusivista, desconfiada e ciumenta. Isto não impede que, no íntimo, eu deseje alguma espécie de uma complexa, delicada e difícil soberania para nós. O esporte ocupa um espaço cada vez maior nesse mundo redondo que, você sabe, é pequeno e dá muitas voltas. O futebol expande as suas fronteiras globais. É o esporte da nova ordem (ou desordem) mundial. Você já reparou que nós só perguntamos pelo nosso lugar no mundo durante as Copas? A mídia brasileira nunca investiu tanto em uma cobertura. O futebol renasceu para o brasileiro, em época de pouca glória. Vendo, por aqui, tantos árabes, tantos africanos, tantos latinos, tantos orientais, à custa de tanto sofrimento, tentarem a sua vez, sou levado a pensar se não existe um significado maior para o futebol. Hoje, daqui deste ensolarado e desértico velho oeste dos conquistadores, onde todos podemos ser os enigmáticos estrangeiros de Camus, eu só espero sentir o tremular de alguma grandeza perdida. Minha terra tem macieiras da Califórnia, diria o grande poeta. O futebol é a nossa precária síntese. Bola pra frente. Até agora (escrevo minutos antes do jogo Suécia x Camarões, pela chave do Brasil), este Mundial está muito equilibrado. Deverá ser uma Copa suficientemente penosa de se ganhar. Até agora, rigorosamente, só ocorreram dois resultados óbvios: as vitórias da Alemanha sobre a Bolívia e a da Bélgica sobre o Marrocos. A Espanha, contra a Coréia, tropeçou nas suas próprias dificuldades e na sua própria falta de confiança. Além disso, sem Nadal, sua defesa foi displicente nos gols coreanos. A seleção da Suíça mostrou menos do que prometia. Pegou, de cara, o time da casa animado e armado pelo sempre astuto Bora Milutinovic. Se os EUA conseguirem uma vaga, animam o torneio. Não se pode dizer que a Romênia foi uma zebra. Há muito se sabe que seus jogadores são habilidosos. A Colômbia continua padecendo com seus goleiros malucos e ingenuidade defensiva. Mas os colombianos ainda podem aprontar mais à frente. Estavam muito autoconfiantes e a derrota pode fazê-los voltar ao tradicional café colombiano com leite da Parmalat. Arrigo Sacchi, da Itália, não arriscou (tirou o terceiro atacante em cima da hora), deixou Baggio muito isolado e perdeu. A Irlanda mostrou ser um time bastante organizado e competitivo. Já a Alemanha jogou 15 minutos assustadores. Serão um osso de joelho de porco duro de roer, pode crer. Texto Anterior: Juiz afirma gostar do futebol brasileiro Próximo Texto: Novas regras mudam quase nada no futebol Índice |
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