São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-musa de Wenders grava primeiro disco

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VILA DO CONDE (PORTUGAL)

A atriz francesa Solveig Dommartin ("Asas do Desejo"), ex-musa de Wim Wenders, tenta reiniciar sua carreira depois de dois anos de separação do cineasta que a revelou. Dommartin começa a gravar no próximo mês seu primeiro disco solo, que conterá letras especialmente escritas para ela por diretores como Jim Jarmusch, Claire Denis e o próprio Wenders.
Afastada das telas desde "Tão Perto, Tão Longe", Dommartin acaba de fundar sua própria produtora em Paris, "Solo Productions", e escreve o argumento de um longa-metragem que pretende dirigir. Solveig Dommartin, 33, veio a Vila do Conde participar do júri internacional.

Folha - Como você vê sua carreira depois de Wenders?
Solveig Dommartin - Estamos separados já há dois anos. A colaboração com Wim foi muito marcante. Folheei há dias um dicionário francês de cinema e há um verbete sobre mim! Aquela figura impalpável da equilibrista, em "Asas do Desejo", deixou uma marca muito forte. Parece difícil para os outros diretores dissociaram-me daquela figura. Além disso, há poucos bons papéis femininos no cinema de hoje.
Folha - Foi este o motivo pelo qual você fundou sua própria produtora?
Dommartin - Sim. Quero ter maior liberdade e controlar minha carreira. Pretendo produzir filmes de jovens diretores mesmo que não participe deles como atriz. Quero também dirigir meu primeiro longa-metragem, cujo argumento já estou escrevendo, Mas não é um projeto para logo.
Quero ter calma para acabar a história e retrabalhá-la com um roteirista, como Wim e eu fizemos em "Até o Fim do Mundo". Estou diversificando minhas atividades. No próximo mês vou gravar meu primeiro disco. Tinha sido convidada há alguns anos por um amigo compositor da banda alemã Can e não tinha levado a sério.
Fiz há pouco um teste, gostei e gostaram. Vou cantar seis músicas escritas especialmente para mim por cineastas como Jim Jarmusch, Claire Denis e o próprio Wim. A música dele é um rock chamado "Je Te Déteste Comme La Peste" (Te Detesto como a Peste -risos). O lançamento será no final do ano.
Folha - Como você vê a polêmica em torno dos últimos trabalhos de Wenders?
Dommartin - Acho que a morte de Fassbinder pesou muito sobre Wim. Ele virou da noite para o dia "o cineasta alemão". Logo ele que sempre foi muito desenraizado, cosmopolita. Essa exigência "alemã" o desorientou. E Wim sempre foi mais conceituado no exterior do que na Alemanha.
Além de tudo, Fassbinder faz mesmo muita falta. Era um gênio. Filmou muito, fez muita bobagem, mas várias obras-primas. É pena não ter Fassbinder vivo para fazer o grande filme sobre a Alemanha de hoje, pós-unificação. Era ele o homem para isso.
Folha - Você esteve uma vez no Brasil. Como foi isso?
Dommartin - Wim e eu passamos por Brasília, Rio e Salvador buscando locações para "Até o Fim do Mundo". Pretendíamos que o filme se passasse nos cinco continentes. No Brasil, o personagem de William Hurt iria procurar o maior oftalmologista do fim deste século, que viveria em São Paulo. Nossa São Paulo fictícia e futurista teria pedaços das outras cidades, principalmente de Brasília, que me deslumbrou.
Por problemas de produção, tivemos que cortar muito o roteiro e transferir tudo que se passaria no Brasil para o Japão. Acho que o filme perdeu muito com a excessiva condensação que sofreu, no roteiro final e na montagem.
O crítico AMIR LABAKI está em Vila do Conde como membro do júri internacional.

Texto Anterior: Salsa romântica domina primeira noite
Próximo Texto: 'Maria Moura' vence ao encarar a feiúra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.