São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
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Kapuscinski narra colapso da União Soviética

DA REPORTAGEM LOCAL

"Imperium" (1993) é um exemplo do "patchwork" literário que caracteriza o trabalho de Ryszard Kapuscinski. Uma literatura que pode ser reportagem, romance, conto, ensaio e poema ao mesmo tempo –e que teve na revista inglesa "Granta" seu principal divulgador nos anos 80.
O livro começa com a experiência da infância do autor, nascido numa região paupérrima da Polônia, hoje território da Belarus, narrando o contato do menino com a guerra e o exército soviético.
Pula daí para a ferrovia Transiberiana em 1958, daí para uma viagem pelos países do Cáucaso (Armênia, Geórgia, Azerbaijão etc.), em seguida para as vésperas do colapso do império (1989-91) e para uma reflexão ensaística.
O mais sedutor é essa combinação entre história e reportagem, através da boca de quem o autor encontra pelo caminho e da narração de suas próprias aventuras.
A história da Armênia pode ser contada por alguém que o autor encontra na rua, assim como sua própria experiência (disfarçando-se de piloto de avião para conseguir chegar a um enclave armênio no meio de um conflito, por exemplo) serve para que se tenha uma perspectiva interior das guerras e da história.
Ao infiltrar-se no interior da história, Kapuscinski cria um mecanismo de identificação e sedução incontornável para o leitor. Grande parte da força desses relatos vem do fato de tratarem de experiências reais.
Apenas 10% das informações vividas por Kapuscinski em suas visitas à ex-URSS estão no livro. "Não acho que seja possível escrever sobre um país que você acaba de conhecer. Levei 40 anos acumulando as informações deste livro. Quando escrevi `The Emperor', tinha 15 anos de experiência na Etiópia. É preciso ter muita intuição também", diz.
Uma intuição que lhe permite criar, a partir do desprezado (e muitas vezes desprezível) jornalismo, uma renovação literária.

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