São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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Sermão

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Rubens Ricupero, falando de improviso, mais parece um ministro da Igreja. Seu tom é calmo, mas severo. Na política, na economia, ele não deixa de ser um tecnocrata, um pragmático. Mas é sobretudo um moralista, no melhor sentido. Isso ele foi ontem, em rede de televisão.
Indignado com a violência nos aumentos de preços, ele decidiu "dar um caráter mais informal" ao pronunciamento para "dizer alguma coisa que vá direto ao coração do brasileiro". Evitou ameaçar com congelamento e coisas assim, que fizeram a glória dos ministros da Fazenda –desde Funaro.
Detalhou os seus motivos, com convicção e também com algum deslize tucano:
"Há sempre dois extremos nesta matéria. Aqueles que, ingenuamente, pensam que tudo se resolve com proibições e com punições. E aqueles que ficam no outro limite e dizem, `não, nós temos que dar absoluta liberdade de mercado'. Nenhuma das posições é a correta. Nós precisamos coibir abusos e, ao mesmo tempo, precisamos confiar na concorrência."
Mais de uma vez o ministro esteve próximo da patriotada. Por exemplo, no fim, ao dizer que o objetivo é "criar um novo Brasil". Mesmo nestes momentos, porém, não foi sem conteúdo. E via de regra ele se conteve. Não falou em fiscais ou em cidadãos, exageros assim, mas em consumidores.
Como num bom sermão, de algum jesuíta –ainda que ele esteja mais para beneditino– não faltou agressividade. Ao atacar, por exemplo, velhos economistas que garantem que importação não baixa o preço –"essas opiniões são sempre no sentido interesseiro."
Também como num bom sermão de jesuíta, cada idéia ou crítica veio sustentada por argumentos e exemplos diretos, claros, quando não exóticos, para segurar interesse. Como o da "goiabada" ou o melhor de todos, do "arroz do Vietnã". Rubens Ricupero, aos poucos, vai aprendendo a política.
Inimigo
Os argentinos, que já foram justificativa até de programa nuclear, no Brasil, continuam assustando. Um dia depois da vitória de Romário e outros contra a Rússia, a goleada de Maradona e outros contra a Grécia deixou o locutor da Globo resmungando. "É... mas a Rússia tem mais tradição."
Na Bandeirantes, Rivellino avisou: "Olha, pessoal, vamos tomar cuidado com a Argentina." Ao seu lado, o locutor completou: "Como sempre."

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