São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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Explode mortalidade infantil no Nordeste

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No interior de Alagoas, entre mil crianças que nasceram nos três primeiros meses deste ano, 174 morreram antes de um ano.
Este índice é pior que o de Angola (170 por mil) e Moçambique (167 por mil), duas das nações mais pobres do mundo e vítimas de guerras civis.
A informação foi prestada ontem pelo Ministério da Saúde com base num levantamento realizado numa amostragem de 268 municípios do interior do Nordeste.
Comparou-se o primeiro trimestre de 1993 com os três primeiros meses deste ano.
A pesquisa feita em 94 analisou um conjunto de municípios diferente do pesquisado em 93. Mesmo assim, o ministério da Saúde considera a amostra significativa.
Para se ter uma idéia do que isso significa, no Japão, o índice é de quatro mortes por mil, na Suécia, de seis por mil e, na Alemanha, de sete por mil.
Na América Latina, Cuba apresenta mortalidade de dez por mil, Costa Rica, de 14 por mil, e o Chile, de 15 por mil.
Numa comparação mundial, Alagoas está abaixo apenas de Níger (191) -o pior índice no ranking da mortalidade infantil da Organização das Nações Unidas.
A média brasileira de 1992 era de 54 por mil. No Nordeste, sobe para 77 a cada mil nascidos.
Os números foram requisitados pelo presidente Itamar Franco, depois da revelação da Igreja Católica de que a mortalidade infantil estava crescendo.
"Estamos estupefatos e em pânico", afirmou ontem o ministro da Saúde, Henrique Santillo.
O Rio Grande do Norte apresentou o maior crescimento: pulou de 85 mortes por mil crianças nascidas para 148.
Nesse patamar, encontram-se no mundo países como Benin ou Senegal, na África. É maior do que Paquistão (137) ou Bangladesh, ambos no sul da Ásia.
O segundo maior crescimento foi na Paraíba, com 56%. Depois, Ceará, que, ao passar de 75 para 116 por mil, evoluiu 54%. Bom resultado foi apresentado apenas no Piauí, onde se verificou decréscimo de 2%.
A mesma tendência foi verificada pela Pastoral da Criança, cujo resultado provocou pedido de explicações de Itamar Franco ao Ministério da Saúde.
O ministério acionou seus 30 mil agentes para apressar a apresentação de dados.
O levantamento serve para indicar, segundo ele, com "extrema precisão", tendência de "explosão" da mortalidade em níveis "desconhecidos" em 20 anos.
Ele atribuiu o resultado ao aumento da fome, provocada pela deterioração social combinada com a seca. Reconhece que muitos centros de saúde não dispõem de medicamentos.
O ministro afirma que a maior parte das verbas do ministério estaria comprometida com o pagamento de internações hospitalares.

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