São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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Rostropovich se despede dos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A Orquestra Sinfônica Nacional se despediu do seu maestro de 17 anos, o russo Mstislav Rostropovich, com um recital de gala na noite de sexta-feira passada em Washington.
Rostropovich, 67, vai voltar a viver na Rússia, de onde saiu exilado em 1974.
Vai ser substituído no comando da Sinfônica Nacional pelo americano Leonard Slatkin, da Sinfônica de Saint-Louis.
O "Tributo a Slava" (apelido do maestro) foi uma das festas mais badaladas que a capital dos EUA viu este ano. Entre os convidados de honra, estava a rainha Sofia, da Espanha.
O repertório da noite foi escolhido em função das preferências do homenageado. Quase todas as peças foram compostas por russos ou americanos. As únicas exceções: Vivaldi e Vila-Lobos.
A seção de celos da Sinfônica tocou a Embolada das "Bachianas Brasileiras número 1" de Vila-Lobos.
Rostropovich escolheu quase todos os violoncelistas da Orquestra e acha a Embolada um teste definitivo para provar a qualidade de um grupo de celos.
A peça de Vivaldi, "Concerto Duplo em Dó Menor", foi intrepretada por dois dos convidados especiais para o recital: o flautista francês Jean-Pierre Rampal e o violinista russo Isaac Stern, amigos do maestro e considerados entre os mais importantes músicos em seus instrumentos neste século.
Apesar de tantas celebridades presentes, quem conseguiu a maior ovação da noite (além de Rostropovich, claro) foi um jovem pianista negro americano, Awadagin Pratt, que tocou o concerto número um de Tchaikovsky.
Pratt, que usa cabelo de cantor de reggae, dispensa o fraque e a gravata e toca em um banco baixo para ficar o mais próximo possível do teclado, deu à peça de Tchaikovsky, já recriada tantas centenas de vezes, um tratamento inédito, que, embora respeitasse a partitura, a aproximou do jazz.
A combinação mais inusitada do recital foi a que juntou o pianista japonês Akira Eguchi e a violinista coreana Chee-Yun para tocarem "America", de "West Side Story", de Leonard Bernstein.
O resultado foi surpreendente: os orientais tocaram com precisão matemática e também com paixão a peça, de forte influência latina, composta pelo norte-americano Bernstein para um musical da Broadway.
A Sinfônica foi regida durante a noite pelos maestros Neville Marriner, diretor artístico da Academy of Saint Martin in the Fields, e por Maxim Shostakovich, filho do compositor russo Dmitri Shostakovich, padrinho artístico de Rostropovich.
Em dois números, à orquestra se juntaram dois corais de Washington, que cantaram da platéia, criando um clima raro no Kennedy Center.
O momento de maior emoção se deu quando a filha de Rostrpovich, Olga, leu uma carta dirigida a ele por Alexander Solzhentzin, que também está de regresso à Rússia.
Os problemas políticos de Rostropovich na ex-União Soviética começaram quando ele ofereceu a Solzhnetzin uma casa para trabalhar na década de 70.
O "grand-finale" foi Slava regendo a Sinfônica e a platéia em marcha de John Phillips de Souza, o compositor americano por excelência.

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