São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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Rede digital pode revolucionar cinemas

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Assim como o lanterninha e os intervalos para fumar já viraram parte da história do cinema, pode ter chegado a vez do projetista e das latas de celulóides. Se uma experiência da Pacific Bell der certo na Califórnia, terá nascido nos EUA o cinema do futuro.
A nova tecnologia tem potencial para dar aos locais de exibição de filmes papel equivalente ao que tiveram as praças no passado das cidades: pontos de encontro onde a comunidade vai receber e transmitir informações, só que agora integradas a uma rede nacional de multimídia.
O projeto da Pacific Bell é apenas o primeiro passo nessa direção. A empresa vai ligar dez salas de exibição da região de Los Angeles a uma central de onde qualquer dos cinemas poderá receber os filmes digitalizados a qualquer momento, via rede de fibra ótica. A qualidade é praticamente equivalente à do cinema tradicional.
Hoje em dia os filmes continuam chegando aos cinemas do jeito de sempre –as latas de celulóides são despachadas das distribuidoras para as salas de exibição. Cada cópia feita a partir do original custa alguns milhares de dólares, o que acaba reduzindo o potencial de estréia de um filme em muitos lugares ao mesmo tempo.
Ainda que seja uma superprodução de Hollywood, normalmente o filme estréia primeiro nos mercados grandes e médios e só depois nas pequenas cidades. Pelo novo sistema, a central digitalizada teria condições de "abastecer" ao mesmo tempo as salas de exibição de todo o país. Além disso, os cinemas poderiam individualmente "estocar" em discos os filmes que pretendem exibir.
A tecnologia permitiria também maior flexibilidade na programação. Supondo que numa região específica do país um filme não atraísse o público esperado, o cinema poderia rapidamente substituí-lo por outra atração, bastando para isso "descarregar" o novo filme da central, sem ter que esperar a chegada das latas de celulóides despachadas por avião.
Além disso, o novo sistema permitiria aumentar a utilização dos auditórios que servem como salas de exibição. Os cinemas de hoje, concordam os analistas, são altamente subutilizados. Apesar da grande estrutura física que ocupam, só nos horários noturnos e nos fins-de-semana é que atraem público suficiente para justificar sua existência.
Interligados a uma rede digitalizada para receber e transmitir áudio e vídeo, poderiam se transformar em fóruns para reuniões, convenções e conferências eletrônicas. Os donos de cinemas poderiam utilizar essa estrutura para faturar em novos tipos de negócios –por exemplo, na transmissão ao vivo de shows de música e eventos esportivos, tirando proveito da grande qualidade das telas e dos sistemas de som.
Tudo isso, no entanto, permanece um sonho para o futuro. Há muitas barreiras a superar. Como a tecnologia ainda não foi provada na prática, ninguém sabe exatamente quanto vai custar a reforma das salas de exibição atuais. Além de ajudar a pagar pela rede de fibra ótica, os donos de cinemas teriam que investir em novas telas e equipamentos.
A isca para eles é a economia que fariam de cara com o novo sistema de distribuição. Hoje em dia a indústria do cinema gasta cerca de US$ 100 milhões por ano fazendo cópias e despachando os filmes de um lado para o outro do país. Um estudo estima que o sistema digitalizado permitiria economia anual de US$ 25 milhões.
Mesmo que o teste da Pacific Bell dê certo ninguém espera que a revolução aconteça da noite para o dia. Tudo indica que a nova rede de cinemas, com capacidade interativa, é coisa para depois do ano 2000.
Já dá para imaginar, no entanto, o dia em que o projetista vai ser um técnico em vídeo cujo trabalho mais importante será disparar o disco que armazena a próxima sessão. Pelo menos ele ficará livre dos assobios que em todo o mundo acompanham a troca dos rolos de filme. Que, por sinal, vão acabar nos museus da história do cinema junto com as luvas dos lanterninhas, os ingressos para as matinês de domingo e as fotos amareladas de Clark Gable.

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