São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
Próximo Texto | Índice

Fay deixa a prisão de Cingapura

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Michael Fay, o norte-americano de 19 anos que recebeu quatro chibatadas nas nádegas em Cingapura por vandalismo (pichação de carros), retorna hoje aos EUA.
Fay foi libertado ontem da penitenciária cingaporeana de Queenstown depois de passar pouco menos de três meses preso.
Ele acusou a polícia de Cingapura de tê-lo torturado para obter a confissão do crime de vandalismo pelo qual foi punido.
"Bateram no meu rosto, puxaram meus cabelos. Eu fiquei suspenso no ar pelos cabelos. Por isso confessei. Mas eu não fiz nada", disse Fay em entrevista à Rádio de Israel, a única a que deu entrevista ontem em Cingapura.
A polícia de Cingapura nega ter torturado Fay. Além das chibatadas, ele foi condenado a quatro meses de prisão, mas foi liberado após 82 dias por bom comportamento. Também pagou uma multa de US$ 2.200.
As leis de Cingapura prevêem pena de seis chibatadas com uma vara de bambu sobre as nádegas nuas do condenado por crime de vandalismo.
Após protestos e apelos do presidente Bill Clinton contra a punição, o governo de Cingapura a reduziu no caso de Fay para quatro chibatadas.
Diversas pesquisas de opinião mostraram que boa parte da população dos EUA concorda com a pena contra Fay e favorece a adoção de leis similares em seu país. Em alguns Estados tramitam projetos de lei nesse sentido.
Fay vivia em Cingapura desde 1992, com a mãe, Randy Chan, e o padrasto, Marco Chan, que é cidadão daquele país do sudeste da Ásia.
Agora, deverá morar na sua cidade natal de Kettering, Ohio (meio-oeste), com o pai, George Fay, e a madrasta, Jane Fay.
O pai, que foi buscá-lo em Cingapura, disse estar surpreso com a boa disposição de Michael: "Aparentemente, ele passou pela experiência intacto. Ele foi muito forte", afirmou.
George Fay, que é judeu, disse que na prisão o filho se interessou pela primeira vez por sua religião.
Na embaixada dos EUA em Cingapura, Michael Fay deu uma curta declaração: "Estou feliz por ter saído. Minha saúde é boa. Estou ansioso pelo futuro. Estou ansioso por voltar ao meu país".
Grupos feministas nos EUA protestam contra o governo Clinton por ter defendido Fay e ignorado o caso de Mary James.
Ela é cidadã norte-americana e foi condenada no Irã a 80 golpes com chicote de couro nas costas e nas nádegas, por ter sido acusada de prostituição.

Próximo Texto: Mãe lésbica recupera a custódia de seu filho
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.