São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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França envia tropa para intervenção em Ruanda

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um grupo de 20 militares franceses foi enviado ao Zaire para preparar a intervenção planejada pela França em Ruanda. O grupo já teria entrado em território ruandês, segundo o jornal belga "Le Soir" e representantes da rebelde Frente Patriótica Ruandesa.
A França propôs à ONU e à União da Europa Ocidental uma intervenção na guerra civil de Ruanda para interromper os massacres que já deixaram mais de 500 mil mortos desde abril.
Os franceses se disseram dispostos a enviar até 2.000 soldados. Nenhum país europeu se comprometeu a enviar homens.
Ontem, os EUA disseram apoiar uma intervenção liderada pela França desde que decidida pela ONU e com outros países.
O secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, disse que a intervenção francesa poderia ser uma solução temporária até que um tropa da ONU de 5.000 homens recrutada em países africanos seja equipada e organizada. A ONU tem menos de 500 homens atualmente em Ruanda.
A Frente Patriótica Ruandesa –dominada pela minoria tutsi do país– condena a intervenção francesa como uma invasão e promete combater os soldados. Segundo a FPR, a França sempre apoiou o governo da maioria hutu, acusado pela maior parte dos massacres.
O chefe da FPR, Alexis Kanyarengwe, disse que o plano "é perigoso porque intenta proteger os assassinos do povo de Ruanda".
Cerca de 10 mil tutsis do Burundi protestaram ontem contra o plano francês. Em Bruxelas, ruandeses organizaram uma manifestação de protesto em frente à embaixada francesa.
O embaixador de Ruanda em Bruxelas disse que seu governo apóia o plano francês. O governo dominado pelos hutus tem assento no Conselho de Segurança da ONU que vai apreciar a proposta.
Combates voltaram a acontecer entre rebeldes e milícias governamentais na capital, Kigali. Não houve modificações nas posições ocupadas.
A ONU suspendeu todos os movimentos de retirada de civis das zonas de combate. Na igreja da Sagrada Família, em Kigali, cerca de 2.000 pessoas, a maioria tutsis, são abrigadas pela Cruz Vermelha. Milícias hutu frenquentemente raptam e matam refugiados.
Uma rádio da França divulgou ontem entrevista com um padre canadense que denunciou um massacre de 3.000 pessoas. Segundo o padre, hutus incendiaram as casas e mataram todas as pessoas que estavam em uma aldeia próxima da cidade de Butaré.
O jornal francês "Libération" publicou a entrevista de um ex-integrante de um esquadrão da morte hutu. Janvier Afrika disse ter sido de um esquadrão montado pelo presidente Juvenal Habyarimana –cujo assassinato deflagrou a guerra civil– para exterminar tutsis e hutus de oposição.

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