São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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Impeachment para Itamar?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Diante dos números divulgados ontem pelo Ministério da Saúde, o presidente Itamar Franco está obrigado a convocar imediatamente uma reunião ministerial –e apresentar soluções urgentes.
Para checar pesquisa da Igreja Católica de que a mortalidade infantil está aumentando, o Ministério da Saúde decidiu investigar cada nascimento em 268 municípios do interior do Nordeste nos primeiros três meses deste ano –apenas esta semana o resultado ficou pronto. É pior do que os técnicos do ministério imaginavam.
No interior de Alagoas, a taxa subiu estrondosos 45%. Traduzindo: de cada 1.000 que nasceram, 174 morreram. Certamente é difícil ao leitor avaliar o que significam esses números. Vejamos. Os piores índices do mundo estão localizados num país africano chamado Níger. Lá, de cada 1.000 seres que nascem, 191 morrem.
Ou seja, pouco acima da situação encontrada no interior de Alagoas, que, diga-se, está pior do que países devastados por guerras civis, como Angola e Moçambique. No Rio Grande do Norte, a evolução foi de 74% e, no Ceará, 54%.
O ministro comentou que os números se explicam pelo aumento da desnutrição –e, aí, combinam-se baixos salários, desemprego, seca. Mas corajosamente admitiu que, com frequência, postos de saúdes não têm medicamentos, devido à "falta de verbas".
O presidente Itamar Franco faz barulho com taxa de juros e mensalidades escolares dos filhos da classe média. Muitíssimo mais grave é o governo estar conivente com esse genocídio ao não fornecer remédios capazes de tratar doenças facilmente curáveis.
Pode parecer duro e até irrealista. Já estou vendo os especialistas em sensatez apontarem a idéia como idiota. Paciência. Mas, fôssemos um país realmente compenetrado, a constatação de que o governo é conivente com tamanho descalabro deveria provocar até mesmo impeachment de um presidente.
Fernando Collor caiu sob acusação de se apropriar de alguns milhões de dólares. Igualmente grave (ou até pior) é um presidente não cumprir suas funções e, como consequência, carregar nas costas milhares de mortes desnecessárias.

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