São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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As fotos não mentem jamais

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Campanha é campanha. Tudo é ou se torna possível quando um sujeito sai de sua vida pessoal e enfrenta a necessidade de conquistar o voto dos outros. É um vale-tudo –e por falar em "vale", lembro aquela frase de que ninguém é grande para seu criado de quarto.
Faço essas meditações ao ver a foto do candidato Fernando Henrique Cardoso no cangote de um cidadão que, antigamente, os jornais chamavam de "um popular". Um gesto de triunfo, de entusiasmo. Erguem-se os heróis, os eleitos da glória, os que estão além do bem e do mal, acima da reles humanidade.
Há também outra forma de encarar a foto, ou de leitura da foto: é o candidato das elites montado em cima do povo, fazendo-o de besta de carga. De uma forma ou de outra, a foto tem, além de dupla leitura, dupla função.
Pode servir de argumento a favor do candidato, bem-amado não só pelas elites, mas também pela plebe. Servirá para mostrar que laboram em erro aqueles que julgam FHC um político desligado do povo. Mas também pode servir para o oposto: o opressor que ficará lá em cima à custa do suor dos que estão embaixo.
O próprio FHC já reclamou que ninguém discute suas substanciosas propostas de redenção nacional, preferindo o pitoresco de um jegue ou de um chapéu de vaqueiro que lhe deu o ar de figurante do Cinema Novo.
Fotografado em cima de um cidadão, ele bota mais lenha na fogueira. Não faz muito tempo, tirou foto sentado numa cadeira que não era a dele: deu um baita azar, o dono da cadeira teve de dedetizá-la. Como dizia um editor da "Life", há sempre um fotógrafo na mira.
Houve um deputado que foi cassado porque deixou-se fotografar de cuecas. E nem era anão do Orçamento. Uma foto vale 10 mil palavras: pode não ajudar o candidato, mas pode derrubá-lo.

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