São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 1994
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Método divide grupos radicais na Alemanha

SILVIA BITTENCOURT
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE COLÔNIA

O serviço de informações da Alemanha calcula que haja cerca de 80 grupos de extrema direita no país, com um total oficial de 68 mil membros.
Só no ano passado foram registrados 33 casos graves de atentados contra estrangeiros ou instituições, que deixaram oito mortos e vários feridos.
A relação delito por habitante indica que a maioria dos crimes acontece na antiga Alemanha Oriental, onde a crise econômica é mais grave.
A extrema direita alemã se manifesta de formas diferentes. Alguns de seus partidos atuam dentro (mas já nos limites) da lei, mas grupos neonazistas continuam se armando e partindo com violência para cima dos estrangeiros.
Os grupos neonazistas são pequenos e agem na clandestinidade –por exemplo, em encontros voltados para exercícios militares.
Quando eles aparecem, porém, fazem estragos. Estes grupos costumam ser proibidos pela Justiça, mas seus membros sempre voltam a ser organizar.
Alguns jovens neonazistas têm um discurso articulado, leram "Minha Luta", de Adolf Hitler, e tentam dar uma base ideológica a seus grupos. Mas a maioria tem um discurso vago e coloca no estrangeiro a culpa de todos os problemas do país.
Jaquetas e botas
Muitos desses jovens têm as cabeças raspadas (são os "skinheads"), usam jaquetas e botas pretas. Eles atacam instituições que acolhem estrangeiros em busca de asilo e picham cemitérios judeus com a suástica de Hitler.
Os últimos ataques graves deste ano aconteceram em março, contra uma sinagoga em Lbeck (norte do país), e em maio, contra africanos, em pleno centro de Magdeburg (região central).
Os neonazistas tentam divulgar suas idéias através de cartazes, mas também de forma sofisticada, como a "mailbox". Com o computador, eles se mantêm conectados, inclusive com o exterior.
Os maiores partidos radicais são a União Popular Alemã (DVU), os Republicanos e o Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD).
Diferentemente dos grupos neonazistas, que assumem sua admiração por Hitler, os Republicanos, a DVU e o NPD se dizem democráticos. Mas, devido à sua campanha xenófoba e racista, eles também estão na mira do governo alemão.
A DVU e os republicanos conseguiram nos últimos anos eleger vereadores e deputados estaduais.
O seu crescimento fez com que partidos realmente democráticos, como a União Democrata-Cristã, do chanceler Helmut Kohl, e o Partido Social-Democrata adotassem posições mais conservadoras para não perder o eleitorado. É o caso da nova lei de asilo político, que se tornou mais restrita.
O NPD não tem representação parlamentar. Mas se tornou famoso, quando seu líder, Gnter Deckert, começou a convidar para palestras historiadores revisionistas.
Ano eleitoral
Os partidos radicais se concentram agora neste chamado "superano eleitoral", quando serão realizados vários pleitos no país, entre eles para o Parlamento Federal.
Eles editam jornais, distribuem cartazes com frases nacionalistas, como "uma Alemanha para alemães", e se valem do direito de divulgar os seus programas na TV.
Numa tentativa de conquistar mais eleitores, os partidos de direita começaram a destacar em seus programas a questão ambiental.
Mas até neste ponto a "culpa" é dos estrangeiros.
Artigo publicado na revista mensal "Nação e Europa", porta-voz da chamada "nova direita" européia, afirma que a entrada de estrangeiros na Alemanha leva à superpopulação, o que seria "nocivo" para o meio ambiente.

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