São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 1994
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Itália joga desfalcada contra a Noruega

SÍLVIO LANCELLOTTI
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Debaixo do sol portentoso que voltou a Nova Jersey, depois de um dia de chuva e de frio, curiosamente na entrada do verão, a cabeça de Arrigo Sacchi, o mister da Itália, fervilha duplamente.
Além do calor, incomodam o treinador as dúvidas na sua escalação para o cotejo diante da Noruega, hoje, crucial, decisivo, no Giants Stadium.
Roberto Baggio sente dores num tornozelo. Alberigo Evani sofreu uma distensão e está praticamente fora do Mundial.
A mesma imprensa peninsular que pressionou Sacchi a utilizar o 4-4-2 no jogo com a Irlanda, agora exige um time mais ofensivo.
No meio desse turbilhão, ontem, antes de iniciar o derradeiro treinamento da "Azzurra", secretamente, na Pingry School de Martinsville, quase 40 minutos de distância do Stadium, Sacchi improvisou uma pequena entrevista coletiva com jornalistas da Bota e este enviado especial da Folha.
Folha - Nos últimos dias, o senhor conseguiu sobreviver a um tiroteio de críticas. Como vai o seu espírito, nesse cenário de tantas intromissões?
Arrigo Sacchi - A imprensa da Itália é assim mesmo, passional, às vezes destrutiva. A mim cabe impedir o desabamento do time, salvá-lo dos exageros.
Folha - O senhor se arrependeu de começar a partida com a Irlanda no 4-4-2?
Sacchi - Por ser uma estréia, eu pretendi utilizar um sistema mais seguro. Daí, se repetiu a velha história do cobertor pequeno. Protegi a defesa e fiquei sem ataque.
Aliás, com determinados jogadores não há como fechar a retaguarda e, ao mesmo tempo, agredir o adversário. Querer as duas coisas ao mesmo tempo é utopia. Eu optei por um caminho. Infelizmente, não funcionou.
Folha - Italo Cucci (um dos mais importantes cronistas da Itália) acusou Roberto Baggio de medroso, incapaz de liderar o time numa virada...
Sacchi - Respeito Cucci, mas ele não escala a minha "Squadra"...
Folha - E a sua "Squadra", com a Noruega, necessita ganhar...
Sacchi - A minha "Squadra" necessita ganhar sempre. E a Noruega tem uma seleção ainda mais forte do que a Irlanda. Creio, porém, que já aprendemos as nossas lições. Com a Irlanda, pagamos o preço das más atuações de jogadores muito importantes. Maldini, por exemplo, estava com febre.
Folha - Maradona seria um bom reforço?
Sacchi - Adoro Maradona. Mas não troco Roberto Baggio por ele, ainda que Baggio não possa chegar aos seus 100% neste Mundial.
Folha - Alguma indicação do time que enfrentará a Noruega?
Sacchi - Apenas digo que será um time bem mais dinâmico.
Folha - Evani se machucou. Retorna Berti, ou entra Conte?
Sacchi - Outros problemas me preocupam. Por exemplo, as dores musculares de Beppe Signori e o cansaço de Mauro Tassotti.
Folha - E Gigi Casiraghi, merecerá a sua chance?
Sacchi - O treinamento desta tarde decidirá a minha escalação.
Folha - Algum temor pela desclassificação da "Azzurra"?
Sacchi - Repito a expressão do presidente (Antonio) Matarrese: improbabilíssimo.

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