São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 1994
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Academia reprovada

A greve de professores e funcionários das universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e Unesp), que durou mais de um mês e perturbou seriamente o ano letivo, terminou sem que os grevistas tenham obtido o aumento salarial que postulavam.
Não cabe discutir aqui a justeza dos índices reivindicados. Se os salários dos docentes universitários brasileiros são baixos, ainda assim estão bem acima dos vencimentos dos professores do ensino básico –que trabalham invariavelmente em condições bastante piores. Quanto aos funcionários, um dado relevante a ser lembrado é a alta proporção de servidores em relação aos alunos nas universidades públicas, circunstância que com certeza suga grande parte das verbas dessas instituições.
O que é óbvio, em todo caso, é que as exigências trabalhistas devem ser proporcionais ao empenho profissional demonstrado, o que, no caso dos docentes de nível superior, se traduz em ensino e pesquisa intensos e de qualidade. E, quanto a estes aspectos, a maioria dos professores universitários brasileiros está muito aquém do que se poderia desejar.
Pesquisa da Carnegie Foundation, dos Estados Unidos, publicada ontem nesta Folha, mostra que os acadêmicos brasileiros são os menos produtivos entre os dos 14 países investigados, levando-se em conta quesitos como tempo de dedicação à universidade e publicação de livros e artigos.
Embora caiba a ressalva de que as três universidades paulistas em questão figuram entre as que apresentam melhor qualidade de ensino e pesquisa no país, contribuindo para evitar que a média brasileira no setor fosse ainda pior, os resultados da pesquisa devem servir como um puxão de orelhas em toda a comunidade acadêmica nacional. Pois, se a sociedade investe preciosos recursos –ainda que possam ser parcos– na formação de sua elite intelectual, é para que estes retornem à mesma sociedade sob a forma de saber multiplicado.
Numa época em que o conhecimento é uma das riquezas mais importantes que uma nação pode possuir, cabe ao Estado –e à sociedade como um todo– o dever de canalizar o máximo possível de recursos nessa direção, e à universidade o de fazê-los render os melhores frutos.

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