São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 1994
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Veja o tempo passar do alto da Chapada

MARCELO LEITE
ENVIADO ESPECIAL À CHAPADA DOS GUIMARÃES (MT)

A rigor, é mais uma questão de desnível do que de altitude. Não mais do que 800 metros, mas em 90º. Uma cratera às avessas, vermelha e fotogênica, que vem sendo esculpida pela água há pelo menos 350 milhões de anos.
Pequenos rios e enormes cachoeiras escavam as bordas da mesa de arenito, terreno formado com a deposição de areia no fundo de mares e lagos. Foram longos 50 milhões de anos, o período geológico conhecido como Devoniano (o quarto dos 11 períodos em que se divide a história da Terra).
Naquele tempo, o ano terrestre tinha 400 dias. Cada dia, apenas 21 horas. A Terra gira cada vez mais devagar. Dá quase para sentir essa desaceleração, na beira de abismos como o Portão do Inferno.
Místicos e esotéricos apontam aí influências magnéticas, emanações. Argumentam que a Chapada está no centro do subcontinente sul-americano. Ou melhor, no centro "geodésico", como gostam de dizer, como se a alusão à ciência da forma da Terra explicasse tudo.
Não há o que explicar. A Chapada é bela, belíssima, ponto. Foi até parar na abertura da novela "Fera Ferida". Confinada, porém, ao clichê glamurizado pela câmera de helicóptero: os 86 metros de queda da cachoeira Véu de Noiva.
Se você parar somente para uma foto, como faz a maioria, vai perder o melhor. De um lado, o da frente da cachoeira, agarrada à parede abrupta, a mata fechada.
Por dentro dela, uma caminhada de 20-30 minutos revela a cachoeira que a TV não mostrou: de baixo. A volta, subindo, pode consumir mais de 40 minutos.
Dá para quatro pessoas e custa 15 URVs (CR$ xx,x mil). Uma refeição ocre e verde, áspera como a paisagem da Chapada. Pimenta e cerveja completam o quadro.
A cidade
Chapada dos Guimarães não é só um acidente do relevo, mas também uma cidade de 13 mil habitantes. Restaurantes, cerâmica, cestaria e doces na Casa do Artesão, uma igreja de 1779 (Nossa Senhora de Santana), pouco mais.
A cidade conta com duas pensões modestas. Em julho deve ser inaugurado o Hotel Colonial São Francisco, a 1,5 km do centro.
A 24 km da cidade há uma opção mais rural, a Pousada da Chapada (rodovia Emanuel Pinheiro, km 63, tel. 065/791-1171).
Além da cachoeira Véu de Noiva (a 12 km de Chapada dos Guimarães), do Mirante (8 km) e do Portão do Inferno (16 km), há muitos outros passeios. Evite, nos fins-de-semana, o balneário da Salgadeira (19 km). O gramado em torno da cachoeira fica lotado.
Agora, para sentir todo o peso do silêncio e da luz estranha da Chapada, escolha um dia de semana. De preferência, à tarde. E mande sua vertigem passear.

LEIA MAIS
Sobre a Chapada dos Guimarães na pág. 6-26.

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