São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Metade de Manaus vive em favelas e cortiços fluviais

ANDRÉ LOZANO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Manaus sofreu um processo de favelização nos últimos dois anos que atingiu metade da população.
Nesse período, 600 mil pessoas, a maioria vindas do interior do Amazonas, se concentraram em casas construídas precariamente à beira dos córregos e do rio Negro. Outras 200 mil vivem em favelas na periferia da cidade.
O perfil dos habitantes dessa espécie de favela é o seguinte: 44,9% têm até 18 anos; 61,3% não são casados; 38,1% têm o segundo grau incompleto e 36,6% concluíram o segundo grau.
Segundo a socióloga e professora da Universidade do Amazonas Heloísa Lara, o surto migratório para Manaus começou em 1975, quando se completou a instalação da Zona Franca de Manaus.
Ela considerou novo e "surpreendente" o dado de escolaridade dos moradores dos igarapés (36,6% com segundo grau completo).
"É mais barato estudar do que morar. As pessoas estão preferindo investir na educação em lugar da habitação", disse Heloísa Lara.
Pesquisa da Semosf (Secretaria Municipal de Organização Social e Fundiária), concluída em abril deste ano, constatou que a população de Manaus "enfrenta graves problemas pela insuficiência de serviços de infra-estrutura".
Segundo o secretário Evandro Silva Albuquerque, em 1992 Manaus tinha 1,05 milhão de habitantes. Atualmente, a cidade possui 1,6 milhões de habitantes.
O relatório diz que esses 600 mil novos moradores de Manaus constituem a população que habita as margens dos igarapés (nome regional dado aos córregos).
"Entre os problemas mais evidentes, sobressaem os decorrentes da deterioração dos igarapés, que abrigam atualmente mais de 600 mil habitantes vivendo em situação precária, pois as águas encontram-se altamente poluídas pelos esgotos domésticos", afirma o relatório.
"Os índices de poluição são elevados e apresentam condições inaceitáveis à vida humana", diz o documento.
O secretário Albuquerque informou que, além das moradias construídas sobre estacas (palafitas) nos córregos de Manaus, a cidade tem ainda 32 outras favelas, onde vivem cerca de 200 mil pessoas.
No total, cerca de 800 mil pessoas moram em condições precárias em Manaus.
A solução do problema habitacional de Manaus é considerada prioridade pela prefeitura, que há um ano criou a Semosf para se dedicar somente ao assentamento de famílias residentes em locais impróprios.
O relatório da secretaria foi encaminhado ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que deverá destinar no final do ano US$ 130 milhões para o Programa de Saneamento dos Igarapés de Manaus.

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