São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994
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Juízes e promotores do Brasil estão entre os mais ameaçados do mundo

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1993, o Brasil atingiu o terceiro lugar entre os países onde mais ocorreram ameaças de morte contra juízes, promotores e advogados. Foram 25 casos.
A informação consta de relatório obtido com exclusividade pela Folha, divulgado na semana passada nos EUA pela organização Lawyer's Committee.
A organização de direitos humanos vai enviar o dossiê à ONU.
Na frente do Brasil estão a Turquia, com 64 ameaças, e a Guatemala, com 35 casos. Em quarto e quinto lugares estão o Peru, com 24 casos, e a Colômbia, com 23.
"É inadmissível que um país como o Brasil, que já fez sua transição para a democracia, fique comparado a países de regime ainda instável, como a Turquia e a Guatemala", avalia o procurador do Estado Oscar Vilhena Vieira.
"O que mais preocupa é que os ameaçados, no Brasil, foram em grande parte funcionários do próprio governo", avalia Vieira, também pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência, da USP.
"Pudemos constatar que, no Brasil, há altos níveis de violência contra magistrados tanto nas regiões Sudeste como Nordeste", avalia o pesquisador norte-americano Lauro Miller Bueno.
Bueno é o cientista político do Lawyer's Committee responsável por investigar a situação no Brasil. Fica no país até setembro para averiguar a violência praticada contra os magistrados e promotores.
Em 1993 ocorreram em todo o mundo 266 ameaças de morte contra profissionais de justiça, que envolveram 415 advogados, promotores e juízes ameaçados, pertencentes a 16 instituições, a maioria de defesa de direitos humanos.
Um grupo de 30 profissionais desses grupo foram mortos, no planeta, depois de terem sido repetidamente ameaçados.
No Brasil, o que mais chamou a atenção, em comparação aos outros países, foi a concentração de ameaças num único lugar, a Justiça Militar de São Paulo.
Ali, foram ameaçados de morte por policiais militares os promotores Marco Antonio Ferreira Lima e Stella Kuhlman, e os juízes Lauro Ribeito Escobar Junior, Paulo Marafanti e Antonio Augusto Neves.
"Vivo em tanto terror que mandei minha família se refugiar numa cidade do interior", revela o promotor Marco Antonio Ferreira Lima, que se diz ameaçado desde que investigou um esquadrão de sequestro de empresários, formado no âmbito da Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar (Rota), a tropa de elite da PM de São Paulo.

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