São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994
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FHC tenta evitar que Itamar mude o plano

GABRIELA WOLTHERS ;TALES FARIA; GUSTAVO PATÚ
DA SUCURASL DE BRASÍLIA

O temor de que o Palácio do Planalto desvirtue na última hora o plano econômico está fazendo com que o candidato do PSDB à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, participe pessoalmente da definição dos últimos detalhes do lançamento da nova moeda, o real.
Anteontem, depois de participar de uma solenidade com o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PP), FHC dedicou sua tarde a um encontro sigiloso com o presidente Itamar Franco no Palácio do Planalto.
Também estavam presentes o ministro da Justiça, Alexandre Dupeyrat, e o da Fazenda, Rubens Ricupero.
FHC ajudou-os a convencer Itamar de que o aumento de preços não dava ao governo justificativa legal para prender empresários.
O presidente tem cobrado de Ricupero e Dupeyrat a prisão de "dois ou três" empresários que pratiquem o que considera "abusos" na remarcação de preços antes do lançamento do real.
O comando da campanha de FHC vê nessas prisões o que têm chamado de "faca de dois gumes": por um lado, tendem a aumentar a popularidade do plano a curto prazo` mas, pelo outro, resultam no início de uma guerra com empresários que, na verdade, estão apoiando a candidatura FHC.
A reunião com Itamar foi cercada de sigilo. A agenda de FHC previa que o candidato iria viajar para São Paulo logo após o encontro com Roriz.
O tucano, no entanto, não embarcou no jatinho Learjet que o havia transportado para Brasília anteontem de manhã.
Para despistar a imprensa, a assessoria do candidato alegou às 16h que FHC havia viajado em outro jato e já estava em São Paulo.
Neste horário, na verdade, o candidato se reunia com Itamar no Palácio do Planalto. Por volta das 19h, saiu acompanhado de Ricupero. Sua viagem a São Paulo só ocorreu ontem, às 8h50.
A preocupação do tucano em evitar "exageros" do presidente foi confirmada na última quinta-feira pelo vice da chapa de FHC, senador Guilherme Palmeira (PFL-AL): "Queremos evitar aberrações."
O próprio presidenciável comentou o assunto com o senador José Sarney (PMDB-AP) no plenário do Senado, na última quarta-feira.
"Preciso da sua ajuda para evitar alterações de última hora no plano", disse o candidato ao ex-presidente, segundo relato do senador Jonas Pinheiro (PTB-AP), que participou da conversa.
"O Fernando Henrique tem estado sempre no palácio", afirma o ministro-chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves.
No entanto, Hargreaves nega interferência no plano. Sua afirmação foi contestada pelo próprio Ricupero: "Ele (FHC) tem participado porque é o autor do plano."

Colaborou GUSTAVO PATÚ, da Sucursal de Brasília

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