São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994 |
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Onde andam as garotas do Disque Erótico?
MARCELO PAIVA
Imploravam, cheias de dengo: "Venha para mim..." "Estou te esperando..." "Eu te quero..." Está certo que faziam parte do maior escândalo de propaganda enganosa que já se teve notícia. Alguns anúncios abusavam, oferecendo loiras, morenas, orientais. Quem garantia que era uma loira, morena ou oriental abusada que estava do outro lado da linha? Modelos, selecionadas a dedo (ops), com aquelas bocas gordinhas, peitos avantajados, coxas e costas sem marcas, corpo plástico, na penumbra de um "take", e dengo e mais dengo: "Ligue pra mim. Ligue..." Você ligava e, gato por lebre, atendia uma voz sem rosto de uma jararaca venenosa, ou de um calhau sem precedentes, urubu resgatado da catinga, jaburu, baleia extinta, detalhe do apocalipse, um eclipse lunar, raposa do deserto, cheia de malícia e melosidade: "Você me ligou..." "Como você é?" "Como eu sou?!" "Sou aquela do disque 900..." Era nada. Contratavam algumas pobres coitadas, enfiavam-nas num escritório com divisórias, do centro velho da capital, numa mesa com um telefone velho e meia dúzia de chavões: "Você é gostoso, delicioso, amoroso, poderoso..." "Você é valente, brioso, é único." Acabou, não por uma intervenção do Conar (Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitário), mas por um ato invisível da atuante força moral que se esconde nos lares da tradição. Uma pena. Era propaganda enganosa, mas era um alento à "vida como ela é". Onde elas estão? Por onde andam? Desempregadas, praticam o velho exercício com alguém? "Venha pra mim..." Texto Anterior: DST aumenta chance de Aids Próximo Texto: CARTAS Índice |
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