São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994
Texto Anterior | Índice

Sonic Youth enfrenta sua crise dos 40

MARCEL PLASSE
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo disco do Sonic Youth, "Experimental Jet Set, Trash and No Star", devia ter, em vez de "No Star", um "No Single" no título. Não há uma única música comercial entre suas 14 faixas.
Sonic Youth resolveu voltar ao barulho básico de "Evol", o LP de 1986 que projetou a banda como novidade do underground.
Por ironia, o novo disco sai no Brasil acompanhado pelo lançamento tardio de "Daydream Nation", de 1988.
"Daydream Nation" foi o último álbum independente da banda. Marcou uma virada em direção à melodias simplificadas, com menos delírios microfonados e mais batidas cadenciadas.
Nenhum outro disco da banda soou tão pesado. "Cross the Breeze" começa como um thrash metal. "Silver Rocket", possivelmente a melhor música do Sonic Youth, é quase um hardcore.
Músicas como "Teen Age Riot" e "Silver Rocket" acabaram servindo de rascunhos bem-definidos para o tipo de composição –distorcida, mas pop–, que o mundo inteiro passou a chamar de grunge após o advento de "Nevermind", LP do Nirvana.
Cada disco que a banda gravou após assinar com a "major" Geffen vendeu mais que o anterior, mas Sonic Youth não chegou a estourar como as bandas de Seattle.
Esperava-se que o novo disco fosse aquele a abrir as portas do sucesso. Ledo engano.
A fotografia da contracapa de "Experimental Jet Set, Trash and No Star", uma mesa de som caseira, de oito canais, dá o tom.
A impressão é de ensaio, improvisos no estúdio.
Não parece, mas Sonic Youth usou um produtor, Butch Vig, que gravou "Nevermind" e o disco anterior da banda, "Dirty".
O casal formado pelo guitarrista Thruston Moore e a baixista Kim Gordon, futuros papais, dividem a autoria das músicas meio a meio.
O álbum abre com a primeira gravação acústica do grupo, "Winner's Blues". Até com violão Sonic Youth consegue inflamar os tímpanos.
Há muitos gritos, guitarras estourando cordas, afinação inventada, explosões de distorção e microfonia incomodando a maioria das músicas. Não é um disco agradável de se ouvir.
Uma possível comparação é o delírio lisérgico dos Rolling Stones em "Their Satanic Majesties Request", de 1967.
Stones, MC5, Stooges, Seeds e as bandas de garagem dos anos 60 são influências transparentes no disco. Mas não é LSD que faz as músicas terem sentido.
Em "Self-Obsessed Sexxxee", Thurston canta sobre as bandas do movimento "riot girls", que se diziam inspiradas por Sonic Youth e agora falam mal da banda.
Em "Screaming Skull", um "garajão" ao estilo Mudhoney, Kim cita diversas bandas, de Superchunk a Husker Du, num desejo de pertencer a esse meio.
Sonic Youth não é mais uma banda de adolescentes. Thruston e Kim gravam juntos há 12 anos. Ao jogar a possibilidade de fazer um disco comercial para o alto, a banda tomou uma atitude de crise.
"Experimental Jet Set, Trash and No Star" é o disco da crise dos 40 anos no rock alternativo.

Discos: "Experimental Jet Set, Trash an No Star" e "Daydream Nation"
Banda: Sonic Youth
Lançamento: Geffen/BMG
Preço: 18 URVs (o CD, em média)

Texto Anterior: Fotógrafo mostra seus retratos de Bali
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.