São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994
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Fay conta como foram as chibatadas

DA "REUTER"

"Estou morrendo". Foi isso que Michael Fay gritou quando levou as quatro chibatadas em Cingapura por ter pichado carros. Mas o adolescente americano diz que isso quem contou foram as autoridades da prisão –ele não se lembra.
Esta é a primeira vez que Fay, 19, descreve a punição.
Segundo Fay, um funcionário da prisão ficou todo o tempo a seu lado e dizia: "Ok, Michael, faltam três. Ok, Michael, faltam duas. Só mais uma, está quase acabando..."
A punição das chibatadas é obrigatória em Cingapura para crimes de vandalismo. O adolescente também passou 83 dias preso e pagou multa de US$ 2.275.
Ele voltou aos EUA no fim da semana passada e vai morar com seu pai na cidade de Dayton, região do Meio-Oeste.
Fay diz que só olhou para todas as cicatrizes no espelho há três dias, depois de já ter deixado a prisão. "Senti um frio na espinha e não consigo acreditar que posso tê-las para o resto da minha vida."
Segundo Fay, os golpes deixaram três marcas de cor marrom escura do lado direito de suas nádegas e quatro linhas de 1,2 centímetro de largura do lado esquerdo.
"A pele se rompeu, saiu um pouco de sangue. Mas não vamos exagerar. É mais ou menos como um nariz ensanguentado", afirma.
Ele diz que as nádegas incharam "um pouco", mas não chegaram a dobrar de tamanho, como diziam relatos a punição de chibatadas. "Nos primeiros dois dias, foi muito difícil sentar."
A sessão de chibatadas aconteceu em um pátio ao ar livre. Ele conta que se curvou sobre um cavalete, com as mãos e tornozelos presos. Estava nu, apenas com uma proteção de borracha nas costas para que a vara atingisse apenas as nádegas.
"Eles dizem `Número 1' e segundos depois vem o golpe." Segundo Fay, o funcionário da prisão não corre, mas dá três passos rápidos para frente "para que consiga um pouco mais de força".
"Você ouve um `crack' quando bate. Um segundo se passou e meu corpo inteiro queimou. Aquilo dói." Segundo Fay, a sessão não dura mais de um minuto.
Após o quarto golpe, Fay foi imediatamente levado para sua cela para se recuperar.
"Naquele momento, eu realmente odiei o governo." O americano diz que quer vender sua história como livro ou filme, não pelo dinheiro, mas para limpar o nome.
Segundo o governo de Cingapura, as acusações de Fay de que houve tortura para haver a confissão são uma tentativa dele para conseguir mais dinheiro com a venda de sua história.

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