São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994
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Porteira escancarada

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – As normas baixadas pelo TSE para o financiamento das campanhas eleitorais não são suficientes para impedir que se repitam os escândalos da campanha de 89.
Em primeiro lugar, e nisto o TSE não tem culpa, não há limites para os gastos dos partidos e candidatos. A lei eleitoral, que se pretendia exemplar por surgir após o Collorgate, prevê limites para as doações, mas não para os gastos.
E as primeiras previsões de gastos comprovam que o país endoideceu de vez. Bom, não necessariamente o país, mas seguramente os políticos e as elites e lobbies que os sustentam.
A Casa da Moeda está prevendo uma primeira emissão de bônus (que serão trocados por doações) equivalente a US$ 5 bilhões. Mas o TSE já sabe que esse cálculo está ultrapassado. Depois de uma consulta aos partidos, concluiu que serão gastos US$ 25 bilhões.
É possível se gastar tanto dinheiro numa eleição? Mesmo somando os gastos de todos os candidatos a todos os cargos em disputa, eu não acredito.
Acho que boa parte dessa grana não chega às campanhas, que continuarão a ser fontes de enriquecimento pessoal e máquinas de lavagem de dinheiro.
US$ 25 bilhões é muito dinheiro. É mais ou menos um quinto da dívida externa do país. Com esse dinheiro dá para construir dois Eurotúneis, como o que acaba de ser inaugurado ligando a França à Inglaterra. Dá para construir 12 ou 13 usinas como Angra 2, respeitando seu superfaturamento.
Como não pode limitar os gastos porque a lei não prevê limites, o TSE tomou medidas que podem inibir os abusos e irregularidades, mas não são suficientes para impedi-los totalmente.
Uma das medidas é a exigência de que as doações maiores sejam feitas com cheques nominais e cruzados. Outra torna o candidato o único responsável pela prestação de contas.
A porteira está aberta, novamente. É mais uma razão para que cada eleitor exerça com paciência a função de fiscal. O que não for descoberto e revelado agora dificilmente virá à tona no futuro. E, mesmo que venha, pode ser tarde, como já vimos.

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