São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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China tira da terra cura para doenças

TSUGUI NILSSON
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE PEQUIM

Ervas, agulhas e massagens fazem parte da rotina do Hospital de Medicina Tradicional Chinesa em Xi Yuan, localizado próximo ao Palácio de Verão do Imperador e do belo lago Kunming, em Pequim, capital da China.
Com 500 leitos, o hospital possui 24 enfermarias e um ambulatório que funciona 24 horas por dia.
A filosofia em Xi Yuan é tratar o paciente e não a doença.
Todas as manhãs sob as árvores do jardim, os pacientes praticam o "Qigong" (arte de reforçar a saúde) e "Tai-chi".
O hospital de Xi Yuan não fica atrás dos ocidentais em matéria de equipamentos modernos para diagnósticos.
Mas o que se destaca aqui é a grande farmácia de ervas medicinais, que reúne espécies vegetais de todas as partes da China.
A fitoterapia (tratamento à base de ervas) é o principal recurso do hospital, que também utiliza a acupuntura (método terapêutico que consiste na aplicação de agulhas muito finas em pontos cutâneos precisos para tratar perturbações funcionais ou aliviar dores).
A medicina tradicional chinesa tem 5.000 anos de história e neste saber acumulado em séculos se escondem muitos segredos.
A China conta hoje com mais de mil ervas medicinais, que são utilizadas em formulações de diversos componentes.
A maioria destas ervas são nativas. Uma mesma erva pode possuir diversos efeitos terapêuticos dependendo da parte da planta utilizada (folhas, raízes, sementes ou frutos).
Na periferia de Pequim, o engenheiro agrônomo e pesquisador Zhou Cheng Ming, do Instituto Nacional de Pesquisa Farmacêutica, cultiva plantas medicinais em apenas um hectare (10 mil metros quadrados).
O solo arenoso, de cor cinzenta, é constituído de "loess", sedimento eólico fluvial proveniente do deserto de Gobbi.
Entre as plantas lá cultivadas destacam-se a alcaçuz (Glycyrriza uralensis fish), "trevo-da-China"(Astragalus membranaceus Bge) e "balloon flower" (Platycodon grandiflorum).
Toda a produção já está comprometida e se destina tanto para o mercado interno quanto para o externo (principalmente o Japão, que vem investindo comercialmente nesta área).
No ano passado, Pequim foi sede do Simpósio Internacional para o Desenvolvimento de Drogas de Fontes Naturais, que reuniu pesquisadores da Índia, Alemanha, Dinamarca, Estados Unidos, Japão, Bélgica, Inglaterra, Suécia, França e Cuba.
Centenas de trabalhos científicos foram apresentados, destacando-se as experiências sobre plantas potenciais contra AIDS e câncer.
Várias entidades se dedicam à pesquisa de plantas medicinais no país. O Instituto Nacional de Recursos Farmacêuticos, a 25 km ao norte de Pequim, possui modernos laboratórios de química, bioquímica e farmacologia.
O Instituto de Desenvolvimento de Plantas Medicinais (Implad), vinculado à Academia Chinesa de Ciências Médicas, mantém um jardim botânico de ervas medicinais. É uma farmácia verde, imensa e fascinante.
Entre todas as ervas medicinais da China, a ginseng é a mais popular. Espécie de planta símbolo nacional, ela é encontrada em qualquer esquina.
Os chineses a consomem diariamente e garantem que ela tem propriedades tônicas e até afrodisíacas, funcionando como estimulante para todo o organismo.
O chá também faz parte do dia-a-dia do chinês. Todos carregam seu vidro de chá, do motorista de táxi ao vendedor ambulante.
Este costume, porém, já começa a ser ameaçado pela onda de "ocidentalização", que introduziu entre os chineses "novidades" como a "Coca-Cola" e a "Sprite".

TSUGUI T. NILSSON é pesquisadora científica e coordenadora da Via Apis.

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