São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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Exposição desnuda ruas da Cuba de Fidel

DANIELA ROCHA
DA REDAÇÃO

Exposição: Cuba Preto e Branco, fotos de Rogério Assis
Quando: de 28 de junho a 13 de julho, seg., ter. e dom. das 18h às 2h, e de qua. a sáb., das 18h às 3h
Onde: A Lanterna (r. Fidalga, 531, vila Madalena, zona oeste, tel. 011/ 211-0483)
Entrada: franca

O fotojornalista Rogério Assis, 29, foi a Cuba no ano passado, ficou lá dois meses e se surpreendeu com a miséria e precariedade da ilha de Fidel Castro.
Ele comprou uma bicicleta e andou por cinco províncias fotografando. O ensaio "Cuba Preto e Branco" é o resultado desta viagem. São 38 fotos selecionadas dos 40 filmes que utilizou.
Em entrevista à Folha, Assis conta um pouco da sua experiência de fotografar os cubanos, comenta sobre sua exposição e sobre seu próximo projeto, fotografar desabrigados norte-americanos.

Folha - Você teve a preocupação de fazer um retrato político de Cuba neste momento?
Rogério Assis - Na verdade, fui a Cuba sem uma pauta definida, mas a imagem que encontrei foi completamente diferente do que imaginava. Fiquei surpreso com o grau de miséria que a revolução trouxe à ilha.
Neste ensaio, tento provar que a ditadura é indefensável, não dá certo em lugar nenhum do mundo. Como fotojornalista, procurei documentar Cuba como ela está hoje.
Folha - A maior parte das fotos foram feitas nas ruas?
Assis - Sim. No tempo que fiquei lá, comprei uma bicicleta e corria a cidade durante o dia fotografando. Fui em cinco províncias: Havana, Santa Clata, Pinar del Rio, Matanzas, Trinidad e Sienfuegos.
Fiquei hospedado em casa de cubanos e isso me ajudou a sentir de perto a realidade das cidades, a rotina de faltar luz a cada quatro horas, de ter água dia sim, dia não, e do racionamento de itens de alimentação básicos, como leite.
Ficava em casas de apenas um cômodo, que era ao mesmo tempo quarto, sala e cozinha. Senti como o povo é extremamente hospitaleiro, simples e bem-humorado.
Folha - Por que a opção de fotografar em preto-e-branco?
Assis - Todo o trabalho pessoal que faço é em preto-e-branco porque exprime melhor o que quero mostrar. É mais puro, a foto não se perde em detalhes e elucubrações sobre a cor, mas se concentra no objeto ou situação.
Todo o registro é feito com luz natural, sem flash. A luz é um elemento informativo, carrega dramaticidade.
Folha - As fotos muitas vezes têm um elemento nostálgico, não parecem recentes.
Assis - É verdade, tive a sensação de viajar no tempo porque tudo em Cuba remete à década de 60. Os carros, as roupas, o comportamento, o machismo.
Folha - Você teve alguma dificuldade em fotografar alguma situação?
Assis - Sim, quando entrei em um dos vários abrigos antiaéreos que Fidel Castro construiu na ilha –espécies de trincheiras enormes. Um soldado me impediu de fotografar o local.
Sobre as trincheiras existe uma história engraçada. As pessoas da ilha comentam que existe uma lenda que diz que há uma outra cidade sob a terra da ilha, para servir de abrigo em caso de um ataque dos inimigos ianques.
Cuba hoje parece que vive o governo do marasmo, porque esse inimigo é uma fantasia, é fictício. Mas cerca de 50% das pessoas de lá foram educadas para acreditar na revolução. O cubano é revolucionário por história. Nos bairros ainda existem os CDRs (Comitês de Defesa da Revolução), para prender os inimigos da revolução (considerado ainda o maior crime no país).
Folha - Você tem intenção de lançar um livro com as fotos e as histórias que tem sobre Cuba?
Assis - Tenho, só que depende de patrocínio. Mas é um projeto que tenho. Outro projeto que devo concluir este ano é um ensaio sobre "homeless" (desabrigados) norte-americanos que comecei a fazer no verão do ano passado. Volto aos EUA no final deste ano para terminar esse ensaio.

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