São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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Brecheret ganha retrato insosso

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Documentário: V. Brecheret
Roteiro e direção: Zita Bressane
Emissora: TV Cultura
Quando: hoje, às 22h30

As esculturas de Victor Brecheret (1894-1955) costumam despertar um sentimento ufanista sobretudo entre paulistanos.
Não é à toa que o Monumento às Bandeiras, instalado no Ibirapuera e reproduzido como símbolo da cidade em cartões-postais, tenha sido concebido como "a maior massa de granito do mundo" em homenagem à "bravura paulista" após o trauma de 1932.
O documentário que a Cultura exibe hoje, às 22h30, sobre a vida e obra de Brecheret, embora correto nas informações, acrescenta pouco a uma biografia tradicional, ufanista e insossa do escultor.
Não há grandes análises, casos, revelações ou grandes histórias, à exceção do inverossímil banquete para 40 pessoas que Adhemar de Barros teria feito dentro da barriga do cavalo de Duque de Caxias, antes que a estátua fosse montada e colocada na praça Princesa Isabel.
O ufanismo em relação a Brecheret começa entre os modernistas, quando percebem que o artista escapa ao academicismo local –enfim um escultor moderno no país– e tem prosseguimento com sua transformação em uma espécie de decorador oficial da cidade, um Portinari da pedra.
Mas o ufanismo não diminui o valor desse artista importante que, inicialmente sob influência de Rodin, passou da escultura clássica ao "art déco" para terminar a carreira reduzindo suas formas ao mínimo, numa espécie de retorno primitivista, mas também não relativiza as coisas, não as coloca em perspectiva.
O maior deslize do documentário da Cultura é, na falta de substância para um enfoque mais anedótico da vida do escultor, reproduzir o discurso provinciano com que os fatos vêm embalados, descartando ao mesmo tempo a opção por uma visão mais analítica da obra.(Bernardo Carvalho)

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