São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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Estado vampiro

Não resta dúvida de que, nos últimos anos, o ambiente econômico global vem sofrendo uma profunda transformação. A recessão tornou o oxigênio mais escasso. A competição entre as empresas aumentou sensivelmente e logo se percebeu que apenas as corporações mais adaptadas, ou seja, mais eficientes e competitivas, sobreviveriam.
Desde então, o setor privado de todo o mundo procurou adaptar-se a essas novas condições ambientais. As empresas vêm enxugando seus quadros, alterando sua arquitetura de gerenciamento, saindo à busca de mais qualidade e investindo bastante em novas tecnologias.
Também no Brasil esse fenômeno se faz notar em quase todas as esferas –em maior ou menor grau. Um único setor da economia certamente não se apercebeu de que o mundo sofreu uma alteração: as estatais e o serviço público.
De fato, esse setor continua agindo como se nada tivesse acontecido. Permanece o império da ineficiência, do empreguismo, do desperdício e da corrupção. E as estatais ineficientes e o próprio Estado, não podendo falir, transmutaram-se numa espécie de parasita que sobrevive à custa da miséria do país.
O pior é que, nessa esfera, ninguém sequer fala em modernização –nem mesmo os candidatos à Presidência, que prometem revolucionar o país sem, entretanto, abordar o tema e dizer o que têm em mente quanto a esse ponto essencial da administração pública.
É preciso, portanto, que a sociedade se livre desse grande anopluro em que se tornou o Estado. A receita é simples; a execução, árdua. Em primeiro lugar, o governo deveria, através da privatização, retirar-se dos setores não essenciais. Nos terrenos em que deve de fato estar presente, há que se revolucionar os métodos de administração e acabar com a cultura da ineficiência. Enquanto não houver coragem de enfrentar essa chaga política –e desgraçadamente ninguém toca nesse ponto–, a sociedade continuará a sustentar um Estado que já há muito a vampiriza.

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