São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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Periferia de São Paulo permanece desinformada

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A chegada do real, depois de amanhã, ameaça levar o caos a milhares de pequenos e micros estabelecimentos comerciais que atendem a população de baixa renda de São Paulo. Na periferia, persiste total desinformação sobre a nova moeda.
Em São Miguel Paulista -distrito da Zona Leste de São Paulo, com 430 mil habitantes- os proprietários de pequenos empórios, avícolas e salões de cabelereiro dizem que não sabem como converter seus preços para reais.
O alagoano Pedro de Souza, 62, dono da avícola Irmãos Souza prevê que viverá "um dia de caos" sexta-feira. Ele disse que até agora não entendeu a URV.
Ontem, estava quase sem mercadorias. O quilo do frango inteiro era vendido a CR$ 3.000,00 e a coxa de frango, a CR$ 5.000,00 o quilo. "Pelo que eu entendi, o preço não pode subir e o quilo da coxa deve custar cinco mil reais", disse ele. Só que ele entendeu errado. A conversão não será feita desta forma.
Dirce Dias Pereira, 35, que tem um pequeno salão na rua Silveira Pires, cobrava ontem CR$ 3.500,00 pela manicure.
Ela disse que na sexta-feira aumentará o preço para CR$ 4.000,00 e que se a conversão para reais resultar em centavos, vai arredondar para cima.
"Vou arredondar porque com centavos fica muito ruim para troco", disse.
Elza Gomes Santana, 50, dona de um empório, diz que na sexta-feira vai mandar seus dois filhos percorrer os supermercados da região. "Se um produto custar R$1, eu boto R$1,30. Se o freguês reclamar, eu mando ele comprar no supermercado', disse.
Elza afirmou que desistiu de tentar entender o Plano Real. "Vejo o noticiário na TV mas não compreendo nada. A cada dois dias meus filhos correm os supermercados e eu aumento meus preços", diz ela.
O baiano Celestino Faustino Resende, 54, montou uma mesa de sinuca e improvisou um cômodo de madeira para vender cachaça, na varanda de sua casa, onde mora com mais 11 pessoas, entre filhos e netos.
Se o freguês paga na hora, Resende cobra entre CR$200,00 pela dose da cachaça. Se compra fiado, o preço sobre para CR$300,00. Ao ser questionado sobre como fará a conversão para o real, ele responde: "Aí tem que ser mais, né? Meu preço à vista vai subir para R$ 300,00."
Informado de que a conversão correta é R$0,08 para a venda a vista, ele coça a cabeça e não concorda: "Mas é muito pouco, não vai dar para nada".

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