São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994 |
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Garotos do Swell fazem folk-rock a partir da ambiência suburbana
GILLES RENAULT
"41" também é o nome do novo (terceiro) disco do Swell. O trio, frequentador do circuito de fanzines, é formado por David Freel (guitarra e vocal), Monte Vallier (baixo) e Sean Kirkpatrick (bateria). A praia do Swell é o folk-rock suburbano, de arranjos rústicos e vocais beberrões, que bebem na fonte "alternativa" dos veteranos Violent Femmes e na depressão gélida do Joy Division. O novo disco transferiu o bairro para o estúdio (detalhismos, buzinas, bombas de gasolina). O som ficou assim: sobressaltos de guitarras acústicas condenadas à debilidade, com todas as cordas arrebentadas; voz sem relevo tentando elevar o tom; amplitude sonora gerada por uma mistura caseira (microfones colocados à distância da bateria, utilização de multipistas analógicas); e ingratidão melódica tão caracterizada, que chega a impor estima. O baixista Monte Vallier e o guitarrista David Freel explicam melhor qual é a desse grupo independente que tem agradado tanto a crítica americana. Pergunta - Como é o dia-a-dia de vocês? Monte Vallier - Nos locomovemos, procuramos comida, traficamos nossa música. Pergunta - Então ela é a única fonte de renda de vocês? Vallier - Sim, desde o ano passado. Antes, eu me ocupava da promoção de uma gravadora pequena, David trabalhava com vídeo e Sean, num restaurante. Pergunta - Qual foi a evolução que vocês registraram entre os discos? David Freel - "41" forma uma trilogia com os dois álbuns anteriores. Não foi intencional, mas aprendemos no meio das gravações que seria preciso abandonar o lugar onde sempre trabalhamos, decidimos encerrar tudo reproduzindo as mesmas técnicas, ambiências, sofrendo conscientemente esta mesma influência do bairro. Musicalmente há mais confiança, o que nos autoriza a proclamar que todas as canções de "41" seguem seu caminho, ao contrário das de "Well". Pergunta - Por que a mudança? Vallier - Porque era a hora. Três discos no mesmo lugar basta. E depois, o buraco tornou-se verdadeiramente infrequentável. Em San Francisco, como em outros lugares, a pobreza ganha terreno e isso gera um clima muito apocalíptico. O pouco material que estava depositado lá, uma vez ou outra, não sabíamos nunca se o reencontraríamos. Pergunta - O fato de abandonar esse campo tão entrincheirado não vai colocá-los em perigo no plano artístico? Vamos viajar durante tantos meses que então o problema não vai mais fazer sentido no ano que vem. Sabemos que, na idéia, estamos inteiramente dispostos a partir de San Francisco. Pergunta - Vocês sempre gravaram com orçamentos irrisórios. O que fariam se tivessem muitos meios? Pergunta - De onde veio a noção de "som espacial e desenfreado" que vocês reivindicam? Em suma, corremos o risco de aterrissar numa terra desabitada. Pergunta - O que vocês querem dizer com "os acidentes são essenciais"? Nossa maneira de trabalhar procede de uma certa reflexão experimental na qual os "acidentes" são bem-vindos. Vallier - Ainda nos surpreendemos com algumas notas de guitarra. Desenvolvemos centenas de idéias antes de chegar a uma que pareça explorável; depois, cada um a interpreta, nos reunimos e partimos para uma autocrítica. As canções têm um longo período de gestação e, na maioria das vezes, o resultado não tem mais nada a ver com o ponto de partida. Pergunta - O mesmo vale para as letras? Pergunta - Correndo o risco de flertar com a introversão... O que pode enganar, sobretudo no palco, é a timidez: o fato de ter um certo número de pessoas plantadas diante da gente não é realmente suficiente para descontrair. Pessoalmente, eu chamaria esta experiência de penosa. Vallier - Muitas pessoas tocam numa banda para se tornar estrelas; o nosso é o contrário. Pergunta - No fanzine de vocês está escrito : "Se nos perguntassem em qual país nos sentiríamos mais à vontade, a França não seria o primeiro nome que viria à cabeça"... Vallier - Desde então, prestando atenção aos aspectos culturais, encontramos mais afinidades. Além disso, os franceses adoram jogar conversa fora, filosofar, beber vinho. Fica-se com a impressão que ninguém trabalha. Pergunta - Um herói francês? Vallier - Juliette Binoche. Tradução de Cássio Starling Carlos Texto Anterior: Blakemore redesenha mundo com suas fotos Próximo Texto: Grupo de teatro de Minas Gerais passa a atuar com patrocínio Índice |
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