São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
Próximo Texto | Índice

Estranho crescimento

O crescimento econômico de 5,7% registrado no 1º trimestre deste ano em relação ao 1º trimestre de 1993 é sem dúvida uma boa notícia. Destoa, porém, das recentes constatações de piora dos indicadores sociais. Os assalariados de baixa renda e a classe média, por sua vez, podem estar se perguntando para onde foi esse crescimento se o nível de emprego não melhorou.
A baixa correlação entre o desempenho da economia e o comportamento do emprego é um fenômeno mundial, de causas razoavelmente identificáveis, mas cuja solução ainda não foi encontrada.
Na história do desenvolvimento econômico, o aumento da produtividade agrícola e a mecanização das lavouras liberaram imensos contingentes de mão-de-obra do setor rural, que foram progressivamente absorvidos pela indústria. Já há alguns anos nos países centrais, e no Brasil principalmente a partir das reformas do governo Collor, a indústria vem passando por um processo similar, de ganhos de produtividade e redução de pessoal.
Os novos padrões tecnológicos, liderados pela disseminação da informática, permitem às empresas produzir mais empregando um menor número de pessoas. Se, por um lado, a acirrada competição internacional estimula a modernização, por outro, agrava o quadro do desemprego, pois acelera a adoção das inovações tecnológicas.
Diferentemente do que ocorreu quando a agricultura liberava mão-de-obra, entretanto, hoje não há uma perspectiva clara de absorção dos contingentes liberados pela indústria. A mecanização agrícola é um processo irreversível e o setor de serviços não tem capacidade de incorporar a mão-de-obra ociosa no ritmo que seria necessário.
Não se pode pregar, evidentemente, que a civilização renuncie aos ganhos trazidos pela tecnologia. Mas tampouco se pode ignorar a perversidade de um sistema que progride mantendo um alto grau de exclusão social. Para esse caso não vale a lógica do "o que não tem solução, solucionado está". Ao contrário, o problema do desemprego é grave. E torna-se hoje o grande desafio das economias modernas, e daquelas que, como a brasileira, pretendem modernizar-se.

Próximo Texto: Tudo na mesma
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.