São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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Itamar é um idiota?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Começou ontem mais uma guerra. Desta vez o motivo é o salário mínimo, explorado eleitoralmente. O presidente Itamar Franco propôs um aumento para US$ 70. O projeto chegou ao Congresso em meio a protestos. O PT, de Luiz Inácio Lula da Silva, defende US$ 100. O problema da maioria dos políticos brasileiros é imaginar que dinheiro dá em árvore –ou melhor, o dinheiro dos outros.
Para dar esse pequeno aumento, o governo federal vai ter de arrumar (e, diga-se, ainda não sabe exatamente como) cerca de US$ 450 milhões. É o necessário para tapar as novas despesas da Previdência Social.
Fosse atendida a reivindicação do PT, o buraco seria de aproximadamente US$ 3 bilhões. Óbvio que Itamar Franco não deu mais porque não podia.
Será ele um arrematato idiota? Se pudesse daria até US$ 500. Não por bondade: sairia carregado do Palácio do Planalto e seu candidato, o senador Fernando Henrique Cardoso, estaria eleito no primeiro turno.
O PT não está percebendo a armadilha que está montando para si –Lula, aliás, defendeu ontem, no Rio, um salário de US$ 115. O partido tem uma chance concreta de chegar à Presidência. E, se chegar, de duas, uma: concede o mínimo que prometeu e explode a economia ou frustra seu eleitores, enfraquecendo sua base de sustentação, o que facilita crises institucionais.
Aí que está o drama para todos os candidatos: quanto mais e maiores forem as promessas de campanhas, mais e maiores serão as frustrações. Gera-se uma decepção não apenas com o candidato, mas com a própria democracia.
PS – A proposta do PT de salário mínimo de US$ 100 foi apresentada pelo deputado Paulo Paim que, até aqui, tem-se revelado um parlamentar ativo e íntegro. Perguntei-lhe, certa vez, se ele renunciaria a seu mandato caso Lula, uma vez eleito, não elevasse imediatamente e sem rodeios o salário mínimo para US$ 100. Não tive uma resposta direta.

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