São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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A farra das madames

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Em arqueologia, as datas não são nem precisam ser exatas. Diz-se que tal espécie de dinossauro viveu entre 40 mil e 60 mil anos atrás, que a múmia encontrada no deserto tal tem de 5 mil a 6 mil anos.
Nas finanças as coisas deviam ser mais precisas, mas até hoje não se chegou ao quanto PC e Collor extorquiram dos empresários e demais voluntários da campanha passada. Falam em 3 bilhões ou 5 bilhões de dólares. Ninguém sabe. Pessoalmente, acho que não chegou a tanto, mas é um palpite de leigo desinformado. Tampouco se sabe a cifra exata dos dólares de nossa reserva cambial. Falam em 35 bilhões, em 38 bilhões e até 40 bilhões.
Tudo é possível. Esse dinheiro será a garantia dos três meses em que o Plano Real deve dar certo para eleger o ex-ministro da Fazenda e manter a atual estrutura política que está no poder.
É dinheiro pra burro. Que sejam apenas 38 bilhões de dólares. Daria para fazer uns 1.500 Jardins da Dinda com preços alinhados em URV. Madame poderia gastar mais do que gastou –segundo queixa registrada pelo tesoureiro da campanha. Enfim, se a turma contasse com essa grana, é possível que Collor ainda estivesse despachando no Planalto com madame gastando cada vez mais.
Collor não tinha, PC não tinha, mas o governo tem. E vai colocar a dinheirama na mesa para bancar o plano que tem de dar certo por três meses, ou seja, até as eleições. Nem madame gastaria tal e tanto.
As vozes mais autorizadas do país admitem que, enquanto o governo jogar dólares no mercado, a mandinga da equipe econômica dará certo, a inflação cairá, senão a zero, a níveis confortáveis. O diabo –como já disse o ministro Ricupero– "são os preços".
Tudo está pronto, checado, todas as hipóteses previstas e tudo será um sucesso –se os preços não cismarem de estragar a festa. Para isso, os 38 bilhões, os 40 bilhões de dólares darão respeitável cacife até outubro. Depois será outro dia. E será o mesmo grupo no poder, com as madames gastando tudo a que têm direito.

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