São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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UDR cria milícia armada contra sem-terra

ULISSES DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

O presidente regional da UDR em Presidente Prudente (558 km a oeste de São Paulo), Arnaldo Couto, disse ontem que os fazendeiros do Pontal do Paranapanema decidiram criar uma milícia rural para proteger suas propriedades das invasões de sem-terra.
Couto afirmou que os fazendeiros vão montar uma contraguerrilha para combater "a guerrilha rural instalada na região".
A seguir, os principais trechos da entrevista

Agência Folha - Como a UDR avalia a depredação da fazenda Estrela Dalva?
Arnaldo Couto - Foi um absurdo. Uma guerrilha rural que estão implantando. Eles (sem-terra) mataram gado, intimaram os empregados e destruíram a propriedade.
Agência Folha - Isso motivou alguma reação?
Couto - Os fazendeiros decidiram, baseados em lei, criar uma segurança rural para evitar as invasões e também o roubo de gado.
Agência Folha - Como vai funcionar essa segurança?
Couto - Estamos concluindo o esquema. Não queremos jagunços para trabalhar conosco. Serão pessoas bem instruídas e que sabem manejar armas e que obedecerão a um comando profissional.
Agência Folha - A área do Pontal é muito grande. Isso demandaria muitas pessoas. Vocês têm recursos?
Couto - Os recursos temos como suprir. Mas a idéia é ter uma segurança volante com veículos ágeis. Se for necessário, vamos usar até aviões e helicópteros. O que nós vamos fazer é uma contraguerrilha.
Agência Folha - Essa segurança será armada?
Couto - Lógico. Para enfrentar um bando daquele que vem armado, nós temos que estar armados. Contra uma ação, a reação tem que ser igual ou superior. Sempre vamos ser superiores.
Agência Folha - Quando vocês começam a implantar essa milícia?
Couto - Já está começando. Acho que nos próximos dias estaremos com isso tudo montado.
Agência Folha - Vocês não temem com isso acirrar os ânimos no Pontal?
Couto - Os ânimos já estão acirrados. Não fomos nós que começamos. Chegamos a um limite.
Agência Folha - Vocês não acreditam mais na Justiça?
Couto - Ao contrário. Ela existe. O que não existe é a vontade política do governo em colocar um efetivo policial para sustar esses movimentos de sem-terra.
Agência Folha - Vocês então vão tentar suprir essa deficiência com uma segurança própria?
Couto - Justamente. Você vê os bancos e indústrias com segurança própria porque há uma falha na segurança pública em proteger a propriedade.
Agência Folha - Quem é o culpado pela situação do Pontal?
Couto - As autoridades que até hoje não conseguiram combater os movimentos dos sem-terra.
Agência Folha - Qual a solução para o conflito do Pontal?
Couto - O governo tomar uma atitude correta. Nos procurar. Se ele considera a área devoluta (de propriedade do Estado), acerte conosco. Não vamos fugir daqui onde estamos há mais de 40 anos.
Agência Folha - Vocês já tentaram procurar o governo para negociar?
Couto - A própria Dionisia Leal (proprietária da fazenda Estrela Dalva), que teve a fazenda depredada, procurou várias vezes e não foi recebida pelo governo estadual.

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