São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Acusado depõe e nega ter cometido crime; negros fazem ato de protesto

DA SUCURSAL DO RIO

O informante da polícia Floriano de Souza e Silva, 29, acusado de matar dois assessores do PT no último dia 13, no Rio, negou ter cometido o crime ontem em depoimento no 3º Tribunal do Juri.
Floriano foi preso dois dias depois da morte de Hermógenes de Almeida Silva Filho e Reinaldo Guedes de Miranda, ocorrida na Abolição (zona norte do Rio). Os dois voltavam de um baile.
Segundo o detetive Marco Pedra, da DDV (Delegacia de Defesa da Vida), Floriano pertenceria a um grupo de extermínio que age na zona norte do Rio, composto também por policiais.
A versão com que a polícia trabalha, segundo Pedra, é que os dois assessores da vereadora Jurema Batista (PT) teriam "mexido" com a mulher de Floriano logo após um baile na noite do dia 12.
O delegado titular da DDV, Antônio Agra Lopes, diz que a hipótese de crime político "está totalmente descartada".
Já o advogado da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal do Rio Abílio Ferreira de Souza acha que os assassinatos tiveram "razões raciais e políticas".
"Dezessete tiros é muito para um crime passional. Esse Floriano viu os dois negros entrando num carro relativamente novo e pode ter pensado que eles eram ladrões", diz.
Para o advogado, outra motivação do crime pode ter sido a atuação dos dois assessores petistas na apuração das chacinas da Candelária e de Vigário Geral, ocorridas ano passado no Rio.
"Temos uma testemunha-chave, mas ela está com medo de depor e acusar o Floriano, que é muito temido lá naquela área. Estamos tentando convencê-la", afirmou.
Essa testemunha, segundo o advogado, teria visto o crime e afirma que Floriano teria confundido os dois com ladrões de carro na hora dos assassinatos.
Para o advogado, a polícia do Rio tenta disfarçar a falta de segurança da população com a teoria do crime passional.
"Isso tira de alguma forma a responsabilidade da polícia", afirmou o advogado.
Hoje, o Movimento Negro Unificado fará ato pedindo apuração total do caso.

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