São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Itamar rejeita Banco Central independente

SÔNIA MOSSRI

Presidente decide influir na economia até o final do mandato e quer deixar o governo com mínimo em US$ 90

O presidente Itamar Franco está decidido a influir cada vez mais no Plano Real. Já comunicou ao Ministério da Fazenda a decisão de encerrar o seu governo com um salário mínimo de US$ 90 e rejeitou a proposta de Banco Central independente.
O presidente decidiu comandar a política econômica nos seis meses de governo que tem pela frente. Ele considera que a remarcação de preços pode prejudicar o plano e exigiu que a Fazenda colocasse a fiscalização nas ruas.
O vice-líder do governo na Câmara, Raul Belém, disse à Folha que o presidente enviará ao Congresso, em outubro, projeto de lei para fixar em US$ 90 o valor do salário mínimo de dezembro, pago em janeiro.
Belém afirma que Itamar desistiu de adotar mecanismos de controle de preços porque foi convencido pelo ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, de que a entrada do real vai gerar acomodação, após os reajustes praticados às vésperas da adoção da nova moeda.
Segundo o ministro-chefe do Gabinete Civil, Henrique Hargreaves, o presidente Itamar estabeleceu que diversos órgãos da Fazenda têm que acompanhar nas principais capitais a estrutura de preços.
O objetivo da iniciativa é detectar a ocorrência de aumentos abusivos (superiores à evolução dos custos de produção).
O presidente do Banco Central, Pedro Malan, e o diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco, insistiram junto a Ricupero para que o governo propussesse ao Congresso a independência total da instituição.
Ambos avaliam que essa é a condição essencial para a nova moeda ter credibilidade junto ao mercado.
Itamar não gostou da idéia porque não aceitará taxas de juros elevadas em julho.
O presidente irritou-se nas últimas semanas com os obstáculos colocados pela Fazenda para a concessão de reajuste de 28% para o funcionalismo público federal a partir de agosto.
O Planalto se convenceu de que existem os recursos previstos no projeto orçamentário de 94 para o pagamento do funcionalismo público –cerca de US$ 24 bilhões.
Reservadamente, a própria Fazenda reconhece que o reajuste não vai estourar o caixa do Tesouro Nacional.
O Planalto e a Secretaria de Administração Federal estimam que existe uma folga no orçamento de pelo menos US$ 1,5 bilhão.
A Fazenda e o Planejamento também estão apreensivos com a intenção do presidente de implementar programas sociais de atendimento à população de baixa renda –barateamento da cesta básica e aumento de assentamentos rurais.
Relação com FHC
A proximidade do lançamento da nova moeda também mudou o comportamento do candidato do PSDB–PFL–PTB à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, em relação a Itamar.
Além de encontros semanais com o presidente, FHC conversa pelo telefone ao menos duas vezes por dia com Itamar.
FHC teme que o presidente se impaciente e controle preços e juros, o que, na avaliação dos tucanos, comprometeria o sucesso do plano.

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