São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Parreira esqueceu as lições da história

ALBERTO HELENA JR.
EM LOS GATOS

O resultado em si não é catastrófico. Afinal, o empate com a Suécia classificou o Brasil em primeiro lugar no grupo, invicto, com um saldo positivo numa Copa do Mundo: 6 gols a favor, apenas 1 contra.
Além do mais, ainda que não ocupando o topo da hierarquia do futebol mundial, a Suécia tem história e o atual time é composto por vários jogadores de classe internacional, que atuam nos centros mais desenvolvidos da Europa. Logo, o placar não espelha o pessimismo que parece ter-se apossado de todos nós, ao fim do jogo.
Na verdade, nada disso me anima nem me deprime. Nem as estatísticas positivas, nem o placar envergonhado de 1 a 1 com a Suécia. O que me incomoda é saber que não temos nenhuma outra alternativa engatilhada, caso falhe o projeto de Parreira, esse de jogar fechadinho, esperando a hora de golpear o adversário, uma ou duas vezes, ao longo da partida. É essa escassez de perspectivas que me deixa preocupado.
Parreira jogou todas as suas fichas num rígido esquema tático e num grupo de cerca de doze ou treze jogadores, dos quais, pelo menos dois não deram sinais de vitalidade: Zinho e Raí. Ora, como o esquema é rígido, com cada jogador cumprindo uma função específica e ocupando uma zona predeterminada no campo, a marcação inimiga sempre será facilitada. Aliás, a impressão que se tem é que voltamos vinte anos na história do nosso futebol.
Voltamos ao tempo da especialização quase robotizada do nosso tempo, tempos em que Zagalo pontificava no cenário brasileiro e mundial. É a linha de quatro zagueiros, com os laterais se alternando na descida ao ataque, presos aos respectivos flancos do campo, como se por ali se estendessem dois trilhos de aço inoxidável. Os beques são beques e estão devidamente protegidos por um cabeça de área, no caso dois. Um ponta -o ponta-esquerda- recua para ajudar no combate de meio-campo, enquanto o outro arma o jogo para dois atacantes enfiados lá na frente.
O carrossel holandês de 74 virou sucata, o discurso da polivalência do Coutinho apagou-se da memória e a recente conquista do bicampeonato mundial pelo tricolor de Telê parece ter sido uma ilusão. Nada aconteceu. A história não ensina, apenas se repete.

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