São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994 |
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Quarteto de Berlim mostra personalidade e técnica Músicos conquistam público em apresentação no Municipal IRINEU FRANCO PERPETUO
Esta personalidade própria ficou clara no concerto de anteontem à noite, no Teatro Municipal. O quarteto de cordas fez o público se esquecer de que seus músicos costumam atuar com mais de cem companheiros, sob a regência de um maestro. A interpretação do "Quarteto nº 7", de Chostakovitch, entretanto, não foi tão feliz. Talvez por ser a primeira peça do programa, o conjunto se desincumbiu dela de maneira fria e sem a leveza que se esperava. A uma abordagem burocrática, a platéia respondeu com aplausos meramente protocolares. A situação foi completamente outra no "Quarteto nº 13", de Beethoven. Parecendo mais "aquecido", o grupo teve uma interpretação rica, valorizando as várias nuances da peça. A riqueza interpretativa deve ser atribuída não apenas aos instrumentistas, mas aos próprios instrumentos, feitos entre 1680 e 1728. Eles permitem aos músicos extrair uma gama enorme de sons entre o piano e o forte, possibilitando uma abordagem mais meticulosa. O ganho interpretativo foi sentido pelo público, que agradeceu. Os aplausos, sinceros, superaram as tosses. O auge do concerto foi o "Quarteto nº 1", de Brahms. O entusiasmo dos músicos nesta peça foi até excessivo, acelerando em demasia o andamento dos movimentos rápidos e perdendo algumas nuances. Não importa. Uma apresentação ao vivo deve ter não a perfeição artificial de uma gravação, mas comunicação com o público e emoção sem afetação. Como nos movimentos lentos, em que o quarteto soube transmitir melancolia sem concessões ao emocionalismo. O bis foi o segundo movimento do "Quarteto nº 2", do compositor polonês do início Karol Szymanowski. Numa ocasião que costuma ser apenas veículo para o exibicionismo dos músicos, o conjunto surpreendeu, transformando virtuosismo em música. Texto Anterior: Borelli mostra seu 'Teatro Coreográfico' Índice |
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