São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Socialista assume poder no Japão

TERRY MCCARTHY
DO "THE INDEPENDENT", EM TÓQUIO

O Parlamento japonês (Dieta) escolheu ontem Tomiichi Murayama para primeiro-ministro. Ele é o primeiro premiê socialista no país desde 1948.
O presidente esquerdista do Partido Socialista assumiu o cargo, tornando-se o quarto primeiro-ministro japonês em 12 meses, graças a uma bizarra aliança entre ex-adversários: os socialistas e o PLD (Partido Liberal Democrata).
A reação do empresariado foi de consternação e a dos cidadãos japoneses de incredulidade. Poucas pessoas esperam que a administração de Murayama permaneça no poder por muito tempo.
Já há sinais de que o PLD e o Partido Socialista enfrentam várias deserções em suas fileiras.
Depois da votação, na qual Murayama venceu o ex-primeiro ministro Toshiki Kaifu por 261 votos contra 214, os socialistas e o PLD procuraram passar por cima do fato de que durante 38 anos foram adversários no Parlamento.
Num encontro com Yohei Kono, presidente do PLD, Murayama disse que se sentiu comovido pelos "apelos sinceros" dos membros do partido que o exortaram a candidatar-se ao cargo.
Kono prometeu o apoio total de seu partido ao primeiro-ministro, na condição de "parceiro constante e sincero".
Mas até mesmo das fileiras do PLD e do Partido Socialista chegaram manifestações de protesto contra a coalizão, que tem poucas políticas em comum exceto o desejo de interromper o movimento por reformas políticas que teve início com a expulsão do PLD do governo, no ano passado.
Murayama já manifestou seu apoio à Coréia do Norte, se opõe ao Pacto de Segurança Japão-Estados Unidos, afirma que a existência de forças armadas japonesas é inconstitucional e não quer que o Japão obtenha um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Em cada um destes casos, sua posição é diretamente contrária à do Partido Liberal Democrata.
A votação seguiu-se à renúncia, na semana passada, do reformista premiê Tsutomu Hata, que enfrentava uma moção de não-confiança no Parlamento.
Os socialistas se viram em posse do voto decisório no Parlamento e exploraram sua posição ao máximo, exigindo o cargo de primeiro-ministro.
"Este conluio é o último estertor de dois partidos que procuram aferrar-se a suas políticas destrutivas, que dominam o Japão desde 1955", disse Morihiro Hosokawa, ex-primeiro ministro e aliado de Tsutomu Hata.
Mas à medida que as manobras parlamentares se desenvolviam, tornava-se claro que estava ocorrendo uma modificação fundamental que, ironicamente, terminará favorecendo os reformistas.
A ala direitista do Partido Socialista, juntamente com alguns membros reformistas do PLD, votou contra Murayama para primeiro-ministro, dando prosseguimento a um realinhamento político que teve início quando Hata abandonou o PLD, juntamente com 35 outros de seus integrantes, em junho passado, para criar um novo partido oposicionista.
Se a coalizão de Murayama tiver vida curta, como se imagina, e forem convocadas novas eleições, os partidos reformistas estarão em posição ainda mais forte do que estiveram para as eleições de julho passado.
Uma coalizão PLD-socialistas, em contrapartida, não terá virtualmente nenhuma credibilidade diante do eleitor comum.
Murayama não tem qualquer experiência ministerial prévia. Filho de um pescador da província de Oita, na ilha meridional de Kyushu, ele integra o Parlamento desde 1972. Antes disso foi membro da Assembléia Provincial de Oita.
O iene japonês teve um alta acentuada em relação ao dólar depois do anúncio da nomeação de Murayama.
(A cotação do iene fechou ontem em Tóquio a 99,27 por dólar, recorde de baixa do pós-Guerra para a moeda americana).
Os negociantes prevêem que a coalizão PLD-socialistas não conseguirá chegar a um acordo sobre como lidar com o superávit comercial japonês, deste modo deixando o iene em alta.

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