São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Dirigente palestino realiza sonho aos 64

ACIL TABBARA
DA "REUTER", EM NICÓSIA

Iasser Arafat vai concretizar aos 64 anos seu sonho de voltar a pisar solo palestino, 27 anos depois da última vez que esteve, como combatente clandestino, nos territórios que Israel acabava de ocupar.
Visto por alguns como visionário e por outros como sedento de poder, Arafat preside o destino dos palestinos desde 1969. Ele emigrou para fazer fortuna no Kuait como engenheiro. Ali fundou, em 1959, o Movimento pela Libertação Nacional Palestina Fatah.
Sua luta sempre foi dupla. Ao ameaçar a ordem estabelecida, Arafat chocou-se com os regimes árabes, que o combateram implacavelmente enquanto ele trabalhava para obter reconhecimento da comunidade internacional, ao preço de muitas concessões.
Arafat rechaça todas as ideologias. Diz não ser "nem de direita, nem de esquerda". Não confia nem mesmo nos colaboradores mais próximos. Quando as coisas se complicam, sempre usa a tática de renunciar, para que lhe implorem para continuar chefe da OLP.
Ele sabe falar com as massas, tem senso de humor e vive frugalmente, enquanto muitos de seus colaboradores preferem o luxo.
Também gosta de mistério. Mohammad Abdel Rauf Arafat al Qudwa al Husseini, filho de comerciante, nasceu no Cairo –segundo seus documentos– ou em Jerusalém –segundo ele mesmo.
Arafat é religioso. Seu nome de guerra, "Abu Ammar", lembra Ammar bin Iasser, guerreiro e companheiro do profeta Maomé.
Eleito para presidir a OLP em 1969, ele teve seu primeiro confronto árabe em 1970, com os combates do que veio a chamar-se Setembro Negro, contra o Exército jordaniano. Resolveu então adotar uma política de equilibrista entre os líderes árabes, pelos quais sente uma desconfiança que é mútua.
No Líbano, Arafat repetiu o erro de querer criar um Estado num Estado. Em 1982, assediado por Israel, acabou sendo retirado por navio. Era o fim da luta armada.
A Intifada (rebelião nos territórios ocupados), em 1987, permitiria à OLP proclamar o Estado palestino e dialogar com os EUA.
Na Guerra do Golfo (1990-91), Arafat caiu em desgraça por apoiar o Iraque de Saddam Hussein. Foi abandonado pelas monarquias árabes que o financiavam.
A partir daí, ele se viu isolado. Foi excluído da conferência de paz de Madri (1991). Mas, enquanto as discussões em Washington se mostravam infrutíferas, ele iniciava negociações secretas em Oslo.
Tradução de Clara Allain

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