São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Empresas planejam o jato do ano 2000

LUCIA BOLDRINI
DA REDAÇÃO

Em um futuro não tão distante assim, o passageiro de vôos intercontinentais que se entediar com o vídeo particular que equipa cada uma das 600 poltronas do avião vai poder tomar um drinque no bar no andar de cima para relaxar.
Se for um dos cada vez mais frequentes executivos que fazem do interior das aeronaves uma extensão do escritório, poderá enviar à matriz aquele fax urgente.
Essas e outras imagens deixam o terreno da ficção para se tornarem conceitos para a criação dos novos aviões que povoarão os céus do planeta no início do século 21.
Especialistas da British Airways passaram dois anos definindo o avião de que a indústria aeronática vai precisar, segundo eles, para transportar o grosso dos passageiros intercontinentais no período.
Agora a companhia aérea britânica discute suas idéias com outras empresas de transporte aéreo e construtores para obter um consenso sobre como será esse avião.
Nos últimos anos, diz Roy Muddle, diretor de planejamento da British Airways, a maior parte das companhias aéreas esteve muito ocupada sobrevivendo à recessão mundial para se preocupar com novas aeronaves.
Com a retomada do crescimento do mercado, elas enfrentam hoje três grandes problemas. O primeiro é a operação na capacidade máxima de grandes aeroportos, que limita o número de vôos.
Em segundo lugar, as empresas precisam cortar cerca de 20% nos custos para manter as tarifas baixas. Só uma aeronave substancialmente maior pode garantir isso.
Por fim, a competição crescente estimula inovações no atendimento aos usuários. Isso requer uma aeronave mais flexível do que qualquer outra em operação hoje.
A análise da British Airways concluiu que por volta de 2010 será preciso ter em operação entre 300 e 400 aeronaves com capacidade para 600 passageiros cada.
Para o desenvolvimento da nova aeronave, seriam necessários cerca de US$ 10 bilhões. A magnitude dessa cifra leva os construtores a esticar ao limite a capacidade dos projetos existentes, além de querer que várias companhias aéreas se comprometam com o projeto.
Em princípio, só uma dúzia de companhias aéreas vão precisar do novo avião no início do século 21. Algumas poucas são norte-americanas; a maioria é asiática.
Única companhia européia com possibilidades de figurar na lista, a British Airways será provavelmente um dos clientes preferenciais.
A aeronave deverá pesar cerca de 600 toneladas na decolagem –aproximadamente 50% a mais do que o modelo mais recente de 747. A cabine será mais ampla e a aeronave provavelmente terá dois andares de ponta a ponta.
Inicialmente, a British Aiways quer uma aeronave capaz de transportar cerca de 600 passageiros por aproximadamente 8.000 milhas (12.874,76 quilômetros), o que é suficiente para um vôo sem escalas entre Cingapura e Londres.
Mais difícil é satisfazer os limites ambientais que vigoram na atualidade. Os novos superjatos teriam que utilizar as pistas existentes, ter um consumo de combustível com o mesmo padrão de eficiência e um nível de ruído não superior aos dos B-747.
Muddle diz que os construtores estão se afastando do formato tradicional dos aviões, com assentos de ponta a ponta.
Supercinemas e centros de saúde podem estar um pouquinho além das possibilidades, mas escritórios aéreos e centrais de computadores equipadas com telefones e fax são possibilidades tecnológicas perfeitamente ao alcance da próxima década.
Idéias simples, como bares para adultos e áreas de recreação infantil em vôos longos, também devem encontrar muitos entusiastas.
Muddle não arrisca palpites sobre o construtor que finalmente vai tomar a dianteira, ou quando isso acontecerá. "Construir a aeronave que queremos não é um problema tecnológico, é um problema econômico", afirma.

*Colaborou LUCIA BOLDRINI.

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