São Paulo, sexta-feira, 1 de julho de 1994
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Cesta básica sobe 10% acima da URV

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

A média de preços de 31 produtos da cesta básica apurada pelo Procon/Dieese em 70 supermercados de São Paulo teve alta recorde em junho, de 61,84% em cruzeiros reais.
O aumento supera o recorde anterior, de 54,01%, registrado em fevereiro, quando houve remarcação preventiva antes da implantação da URV.
A alta em URV de junho foi de 10,39%, pouco inferior à de fevereiro, de 10,65%.
Lideraram os reajustes em junho, segundo o Procon, o frango resfriado/kg (26,02% acima da URV) e o café embalado em papel laminado/500 g (20,99%).
Com isso, a cesta básica, que custava CR$ 60.906,82 em 28 de fevereiro, passou para CR$ 292.625,38 ontem (106,41 URVs).
A alta de preços prejudica todos os trabalhadores que mantiveram seus salários congelados em URV.
A perda de poder de compra com relação à cesta básica chega a 11,40% nos últimos quatro meses, correspondente à alta média dos 31 produtos acima da URV.
Cálculos do Dieese divulgados ontem mostram que nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro últimos um salário mínimo comprava 76% da cesta básica (que na média desses meses custava 85,04 URVs).
Como o salário mínimo continuou valendo 64,79 URVs em junho, seu poder de compra ficou restrito a menos do que 65% da cesta básica média do mês –101,12 URVs.
"O aumento penalisa especialmente a população de baixa renda, visto que os produtos essenciais pesam mais, proporcionalmente, no orçamento desse setor populacional", afirmou Sérgio Mendonça, coordenador técnico do Dieese.
Os salários também registraram perdas, no período de vigência da URV, se sua variação em cruzeiros reais for comparada à do ICV, apurado pelo Dieese, e ao IPC, apurado pela Fipe. No primeiro caso, as perdas foram de 9% e no segundo, de 9,75%.
No entanto, na média do IPC, IGP-M e IPCA-Especial, a URV e os salários perdaram pouco de março a junho -0,4%.
"Os empresários aumentaram os preços preventivamente agora para depois sentir o mercado e reduzi-los durante o real", afirmou o economista Antonio Kandir.
Candidato do PSDB a deputado federal, ele acredita que, com a inflação menor, o consumidor vai comparar preços mais facilmente e escolher o produto mais barato, importado ou não, aumentando a concorrência e reduzindo preços.
Juarez Rizzieri, coordenador do IPC da Fipe, calcula que a inflação baixa deixaria de "comer" US$ 12 bilhões ao ano, ou US$ 1 bilhão ao mês, de renda da população. "Haverá um ganho com o fim do imposto inflacionário."
Sérgio Mendonça, do Dieese, admite esses ganhos com a inflação menor.
Segundo o Dieese, no entanto, um trabalhador com data-base em agosto teria, considerando-se um cenário otimista de inflação de 3% ao mês, perdas nos salários médios reais de 17,05% entre agosto próximo e junho de 95. Isso porquê, na era do real, os salários ficam congelados por 12 meses.

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