São Paulo, sexta-feira, 1 de julho de 1994
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Estabilidade para o Brasil

ITAMAR FRANCO

Nesta sexta-feira, os brasileiros começam a trocar 30 anos de inflação pela oportunidade de um futuro de ansiada estabilidade. Ao entrar nas agências para transformar seus cruzeiros reais em reais, cada cidadão vai estar fazendo muito mais do que uma simples operação bancária. É toda uma cultura da inflação que começa a cair por terra. O próprio ato da troca da moeda –a maior operação desse porte de que se tem notícia desde a invenção do dinheiro– assume neste momento a condição de uma grande renovação nacional. Mesmo no anonimato, sem saber, quem estiver trocando seu dinheiro estará dando com o Brasil um passo decisivo para mudar definitivamente o nosso modelo de desenvolvimento econômico e social e dar ênfase, como se deve, à redistribuição de renda e à melhoria dos indicadores sociais brasileiros.
O real chega para coroar um processo de transformação da economia brasileira chamado Plano Real. Como alguns dos planos anteriores, o Plano Real veio atender um reclamo da sociedade brasileira e da maioria dos seus agentes econômicos em favor de uma política econômica que acabasse com os altos índices da inflação e permitisse a retomada sustentada dos investimentos produtivos e a geração de empregos, provavelmente a maior prioridade do nosso povo. Mas as semelhanças param por aí.
Ao contrário de outros planos anteriores, o Plano Real preparou cuidadosamente a troca da moeda. Todos se lembram de como em outras ocasiões a nova moeda –sempre à base de um corte de três zeros– era apenas uma entre as muitas medidas que constituíam os planos e que eram anunciadas em meio a uma grande confusão, a muita perplexidade e por vezes desagradável surpresa. A idéia de choque era mesmo a que melhor descrevia aquelas iniciativas. No Real, não. Tudo foi preparado, anunciado e implementado gradativamente, dando-nos tempo para avaliar o impacto das medidas e as reações. E para fazer as correções necessárias.
Em meses de trabalho que muitas vezes geraram até uma certa angústia por resultados que demoravam a chegar –para que pudessem ser duradouros–, construímos e desenvolvemos as condições fundamentais para pôr o plano em marcha. Reestruturamos as finanças públicas. Equilibramos o Orçamento para 1994 e 1995, com o Fundo Social de Emergência. Resolvemos a questão da dívida externa e normalizamos as nossas relações financeiras internacionais. Acumulamos níveis sem precedentes de reservas. Reduzimos os indexadores a um indexador único para todos os preços e tarifas, a URV, passo fundamental para poder extinguir a indexação automática e restabelecer a relatividade entre os preços da economia. Nesse processo, tivemos ampla participação do Congresso e discutimos o plano com a sociedade, através da imprensa e de contatos diretos com partidos, representações sindicais, lideranças civis.
E além disso, temos a maior safra agrícola da nossa história, a economia tem um grau de abertura adequado para permitir maior competitividade no mercado interno brasileiro e estamos crescendo moderadamente, com possibilidade de ampliar a produção sem bater nos limites da nossa capacidade.
Com essas condições básicas preenchidas, estamos lançando uma moeda forte. Sua força não decorre de um ato de vontade política ou de uma crença cega no acerto das outras medidas. Ela vem da realidade de normas rígidas de emissão e de lastro, do controle dos gastos públicos e do equilíbrio fiscal. Vem também da determinação do governo de levar o plano de forma coesa, apostando forte na estabilidade como a mais importante contribuição que poderemos dar para a retomada sustentada do desenvolvimento brasileiro.
O real chega finalmente para dar forma concreta e tangível à estabilidade que estamos construindo. O Brasil não podia esperar mais. E esse clima de estabilidade que começa a conquistar o país acabará por se instalar em toda a sociedade e por permear as relações entre os agentes econômicos. Quem se opuser a essa tendência em nome de um ganho fácil vai acabar se colocando contra a história.
Porque o que se inicia com o gesto de cada brasileiro que troca o seu dinheiro a partir deste 1º de julho é um capítulo novo na nossa história, um capítulo que será redigido por cada um dos 150 milhões de brasileiros que constroem este país com o seu esforço e com a sua confiança.

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