São Paulo, sexta-feira, 1 de julho de 1994
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Pelé irrita Galvão Bueno em transmissão

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Só se eu matar ele, cara!" Foi assim, com um misto de irritação e ironia, que o locutor da Globo, Galvão Bueno, protestou contra o o desempenho do comentarista Pelé depois da partida entre Brasil e Suécia, na última terça-feira.
A frase –e o diálogo em que se inseria– chegou à casa de pelo menos 17 telespectadores paulistas. Um deles, de Jundiaí, que preferiu não se identificar, gravou toda a cena. As imagens ficaram no ar por 12 minutos.
Os 17 telespectadores sintonizaram a Globo via antena parabólica. Logo depois do jogo, que ocorreu em Detroit (EUA), a imagem de Galvão Bueno e Pelé invadiu o vídeo. Eram 19h.
Os dois estavam na cabine de transmissão e se preparavam para gravar uma entrevista que a Globo exibiria mais tarde, durante o "Jornal Nacional". Assim que respondeu as perguntas do locutor, Pelé se levantou.
Enquanto o ex-jogador se afastava, Galvão, usando um fone de ouvido, começou a conversar com alguém que chamava de Fernandinho –provavelmente o jornalista Fernando Vanucci, que se encontrava em Dallas, na sede norte-americana da emissora.
Ambos reclamavam que os comentários de Pelé durante o jogo foram muito longos. "Eu fecho o microfone dele e ele abre de novo, porra!", dizia Galvão.
Outra pessoa participou da conversa. O locutor a chamava de Cirão. Era, provavelmente, o diretor de esportes da Globo, Ciro José, que também estava em Dallas.
Pelé gravou duas vezes a entrevista para o "Jornal Nacional". A primeira gravação ficou muito longa. "Vamos lá, Pelé, curtinho, tem que ser curtinho", pediu Galvão Bueno. O ex-jogador acenou, desculpando-se.
A seguir, trechos do diálogo entre o locutor e a central da Globo:
Galvão – Fala, Fernandinho (pausa para escutar no fone de ouvido). O Ciro tem que vir para cá. Você passou o jogo inteiro no meu ouvido. Eu sei o que estão dizendo: "Fala pro Pelé não falar. Fala para o Pelé diminuir." Só se eu matar ele, cara! Só se eu matar ele, cara (irônico)! Ele vem aqui e mete a mão no microfone assim, tum, abre e fala. Quem contratou, que converse com ele, pô! Ô, Cirão, você vai me enlouquecer. Eu vou dar com a marreta na cabeça dele, pô (sorrindo). Eu vou fazer o quê?
(Pausa para ouvir)
Galvão – Ciro? Eu, no ar, não posso falar. O que está acontecendo? Eu estou fechando o microfone dele. É a única forma que eu tenho de evitar, é fechar o microfone. Eu fecho, ele abre de novo, pô! Como é que eu faço?
(Pausa)
Galvão – O Arnaldo (o ex-árbitro Arnaldo César Coelho, outro comentarista da Globo) já consegue. Viu o Arnaldo como fala menos, faz menos intervenções? Eu não sei como resolver isso. A gente tem que ligar para o Pelé e conversar com ele.
(Pausa)
Galvão – Não adianta falar, Fernandinho. Isso tem que ser durante o jogo. Digam vocês para ele: "Pelé, se segura..."
(Pausa)
Galvão – É, e eu fico louco. Dá vontade de eu meter o microfone na sua cabeça. Vocês ficam dizendo: "Galvão, corta o Pelé. Galvão, o Pelé tem que ser mais curto. Galvão..." E eu vou fazer como?
(Pausa)
Galvão – Porra, eu cutuco. Eu fecho o microfone dele, ele abre de novo, porra. E ele já foi reclamar. Eu já tinha falado pro Ciro que ele foi reclamar.

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