São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Emitindo uma carta de intenções

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Estão dizendo que as metas de emissão do real são rígidas, inflexíveis e, por decorrência, recessivas.
E se as metas estourarem? O novo Conselho Monetário Nacional (CMN), alegando algo excepcional, vai se reunir e mandar a maquininha de fazer dinheiro rodar mais. Caput.
Só existem duas formas de estabelecer (e cumprir) metas rígidas de emissão. O esquema argentino da conversibilidade –a emissão de moeda nacional é limitada pela entrada de dólares– e o Banco Central independente. Aqui, o caso não passa perto de nenhuma das duas alternativas.
As metas são uma espécie de truque. São marketing. Bom marketing, diga-se. São, a rigor, uma carta de intenções do governo para com a sociedade –vamos emitir o suficiente para que a economia funcione e não o necessário para que a inflação volte.
É bom que seja assim para que não se cometa outro engano. A idéia de que, se as metas eventualmente estourarem, o plano está perdido.
Preferir o dinheiro em conta corrente (e não aplicado) não é uma prova cabal de burrice.
Nos países desenvolvidos, estes depósitos somam de 12% a 20% do PIB (Produto Interno Bruto, uma medida da riqueza nacional). No "esperto, carnavalhesco e cheio de jeitinhos" Brasil soma hoje menos de 1% do PIB.
Faz anos que não sabemos o que é conviver com uma inflação menos "esperta" e mais civilizada –fora alguns breves períodos pós-choques.
Faz anos, portanto, que não sabemos calcular qual é a legítima (e não-inflacionária) quantidade de dinheiro que pode circular na economia sem arrebentar a nossa combalida relação entre oferta e demanda.
Fazer comparações com o que aconteceu durante o Plano Cruzado, não tem cabimento algum. Lá, o juro era negativo (abaixo da inflação); os preços estavam formalmente congelados; a economia era fechada; a reserva em dólar do país uma porcaria etc e etc.
O duro, portanto, é saber a hora que se deve fechar a maquininha. Duro também é que, pela medida provisória, quem, no fim das contas, diz a hora é o presidente Itamar Franco.

Hoje, expecionalmente, deixamos de publicar a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.

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