São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Mercado financeiro espera BC fixar juros para operar

FIDEO MIYA ; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nenhum negócio no mercado de câmbio. Bolsas em queda ou "de lado". Operadores, analistas e economistas esperando o Banco Central (BC) fixar a taxa de juros que será praticada no overnight –ela serve de baliza para todas as demais taxas praticadas no mercado financeiro.
Este é o cenário esperado para amanhã pela manhã no primeiro dia de operações efetivas no mercado financeiro com a nova moeda, o real.
Embora o Plano Real tenha sido previamente anunciado, para amanhã os bancos só têm uma certeza e convivem com muitas incógnitas.
A certeza: as taxas de juros reais (descontada a inflação) da economia vão subir.
É o tamanho do juro comparado com o preço de compra de dólar que o BC se dirá disposto a pagar que vai definir quanto recurso externo vai ingressar no Brasil. É por isto que, esperam os analistas, o câmbio ficará parado, esperando.
No caso das Bolsas, haverá expectativa tanto porque não se sabe qual será a reação do investidor estrangeiro como porque não se sabe como vão se comportar os financiadores do mercado (que dependem dos juros).
As incógnitas são, portanto: 1) qual será a taxa de juros que o Banco Central (BC) vai praticar no overnight; 2) qual será o preço que o BC estará disposto a pagar para comprar dólares –a taxa de venda está fixada em US$ 1,00 por R$ 1,00.
"Até agora o BC não sinalizou absolutamente nada. A partir desta segunda-feira teremos as respostas", resume Raul Barreto, vice-presidente executivo do Banco Mercantil de São Paulo S/A.
Barreto diz acreditar numa taxa de abertura no overnight em torno de 12% ao mês (0,40% ao dia, que projetaria uma rentabilidade efetiva de 8,31% durante os 20 dias úteis de julho), embutindo um juro real de 3% a 3,5%, acima de uma inflação entre 4,65% e 5,16%.
Mas há quem aposte em um juro um pouco menor –ao redor de 11% ao mês. Nesta ponta estão os que apostam em uma inflação entre 3% e 5%.
Na interpretação de Barreto, as medidas adotadas na área cambial convergem para um controle rígido da emissão de reais.
Quando o investidor estrangeiro ingressa no país, ele vende seus dólares para o BC, recebe os reais correspondentes e os aplica no mercado financeiro.
Ou seja, se não houvesse qualquer controle, a emissão de reais poderia explodir pelo simples fato de que, atraído pelo juro alto, aumentaria o ingresso de investimento estrangeiro.
Nos últimos dias 29 e 30 de junho, o BC comprou dólar aplicando um deságio de 5% e 7%, respectivamente. Isto é, a cotação de compra ficou de 5% a 7% menor do que a cotação de venda.
É esta política que o BC pode continuar mantendo a partir de amanhã. A única diferença é que a taxa de venda foi fixada, por tempo indeterminado, em um dólar por um real, enquanto a de compra pode flutuar diariamente conforme os objetivos das políticas monetária (controle da emissão de reais) e cambial (controle da quantidade de reservas).
Na avaliação de Barreto, há espaço para o BC comprar dólar a 5% ou 7% abaixo do real durante algum tempo sem comprometer as exportações.
Ele explica que, nos últimos meses, os exportadores aumentaram substancialmente as operações de ACC (Adiantamentos de Contratos de Câmbio), convertendo as receitas futuras de exportação em moeda nacional.
Ibrahim Eris, ex-presidente do BC, diz que "não se pode discutir a eficiência deste tipo de política. Você pode estabelecer um fluxo de entradas e saídas que quiser, sempre haverá um preço que compensará uma ou outra operação".

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