São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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À mídia cabe relatar os erros e os acertos

ALBERTO HELENA JR.
EM LOS GATOS

Foi uma cena de cinema. Ou melhor de TV, pois era a hora aí no Brasil do finalzinho do Jornal Nacional. Os jogadores se reuniram no centro do campo de treino, todos sentadinhos no chão. Em pé, a comissão técnica, mais Branco, um dos líderes do elenco de jogadores, ladeando o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, de boné branco e camisa amarela fora da calça, acentuando o perfil rubicundo da cintura.
Ao que me consta, em matéria de futebol, trata-se de um iletrado. Só então fui informado que se tratava de uma tertúlia literária: o superintendente Américo Faria estava lendo um artigo de jornal, que esculhambava a crônica esportiva em geral, e enaltecia o trabalho da seleção brasileira.
Quero, antes de mais nada, esclarecer que defendo até à morte o direito do autor em espinafrar seus colegas de profissão. Sou avesso a qualquer tipo de corporativismo. Mas não posso aceitar calado que um neófito qualquer se arrogue o direito de dizer, por exemplo, que Mário Sérgio foi um medíocre ponta-esquerda. Ao dizê-lo, já perde a autoridade de escrever uma linha sequer sobre futebol. Quanto mais enaltecer o trabalho da CBF e da atual comissão técnica.
Para quem acompanha de perto esse trabalho, sem preconceitos, ambas tiveram acertos e erros. O dever da imprensa é esse mesmo: relatar e refletir sobre esses erros e acertos. Nada mais. Torcer, pró ou contra, até mesmo no caso de seleção brasileira, é direito exclusivo do torcedor comum. Nós não temos esse direito.
Nós somos os olhos e os ouvidos do torcedor –ou, se quiserem, do consumidor desse produto chamado futebol. E o que tentamos é servir de intermediários entre seus anseios e os personagens que aqui constróem os fatos. Nada mais.
E o que quer o torcedor? Apenas que a seleção ganhe, jogue bonito e lhe dê a satisfação esperada. Se o time cumprir estes desígnios, será recebida em delírio. Caso contrário, terá do torcedor o desprezo e da crônica esportiva as críticas cabíveis. O resto é papo furado de quem não é do ramo.

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