São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994 |
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EUA não temem o Brasil, afirma Balboa
MARIO CESAR CARVALHO
É ele que organiza aos gritos a defesa e, como líbero, inicia as jogadas de contra-ataque –a forma pela qual os EUA marcaram dois dos seus três gols na Copa. Balboa é a voz dos EUA –uma voz pretensiosa. "Podemos ganhar de qualquer seleção. Vamos jogar de igual para igual com o Brasil", disse em entrevista à Folha. Ele credita a campanha vitoriosa dos EUA, time que não chegava à segunda fase da Copa desde 1930, à união entre os jogadores. Os EUA parecem uma seleção à moda antiga na descrição de Balboa. Depois dos jogos ou treinos, os jogadores passeiam juntos, vão ao cinema, jogam videogame. Balboa disse que foi o técnico Bora Milutinovic que mudou os EUA, considerada uma seleção vira-lata antes da Copa. "Agora jogamos mais como os latinos", afirma. E, como Milutinovic, tornaram-se obcecados: pensam futebol 24 horas por dia, segundo Balboa. Recordista em partidas pela seleção dos EUA, com 93 jogos desde 1988, ele tem uma situação peculiar para quem perdeu por centímetros o que seria o gol mais espetacular desta Copa, a bicicleta que deu contra a Colômbia. Nunca jogou num time profissional. O filho de argentinos que nasceu em Chicago joga na Universidade Estadual de San Diego, na Califórnia. Na entrevista que se segue, ele diz que isso vai mudar depois da Copa: "Posso jogar em qualquer time do mundo". Folha - Você está na seleção dos EUA desde 1988. O que mudou desde aquela época para que vocês chegassem à segunda fase da Copa 94? Balboa - Estamos trabalhando muito para deixar o grupo unido. Fazemos muitas coisas juntos depois das partidas, dos treinos. Folha - O que vocês fazem? Balboa - Passeamos, vamos ao cinema, jogamos videogame. Isso faz muito bem porque precisamos de uma equipe unida. Folha - Quem é o principal responsável pela união e pelas mudanças táticas no time? Balboa - Acho que é o nosso técnico. O técnico anterior, Bob Gansler, era muito bom, mas queria jogar como os europeus. Agora jogamos mais como os latinos: ficamos muito tempo com o domínio da bola, fazemos jogadas rápidas. Bora mudou a seleção dos Estados Unidos. Folha - Como trabalha Milutinovic? Há pessoas que dizem que ele dá mais ênfase ao aspecto psicológico do que ao tático. Balboa - Ele faz as duas coisas. Trabalha com a mente dos jogadores e planeja o time taticamente. É um técnico que quer tirar o máximo do nosso futebol, quer nos ensinar uma série de coisas. Ele quer que a gente pense futebol como ele pensa: todas as horas, todos os dias. Isso está mudando a mentalidade de muitos jogadores. Antes não pensávamos futebol 24 horas por dia e agora estamos pensando. Folha - Milutinovic é obsessivo desse jeito? Balboa - Falamos de futebol o tempo todo. Discutimos o futebol da Europa, da América do Sul, de todo o mundo. Folha - Como vocês planejam jogar contra o Brasil? Balboa - Ah! Ah! Ah! (rindo) Essa é um pergunta que só Bora saberia responder. Ele ainda não falou nada sobre como vamos jogar, que time começa jogando. Folha - Falando sinceramente: você acha que os EUA podem vencer o Brasil? Balboa - Em qualquer dia nós podemos ganhar de qualquer seleção. Ninguém imaginava que íamos ganhar da Colômbia e ganhamos. Temos um time muito bom e vamos jogar de igual para igual com o Brasil. Folha - Qual é o maior medo dos jogadores dos EUA ao enfrentar o Brasil? Balboa - Sabemos que o nosso time é bom nas jogadas aéreas, que temos muita velocidade no ataque, mas temos que parar Romário, Bebeto, Raí. Têm tantas coisas em que o Brasil é forte. Mas, se conseguirmos pará-las, temos chances. Folha - Foi Milutinovic que o transformou em líder do time? Balboa - Foi. Sou o líbero, já joguei num Mundial, tenho experiência e tenho que mandar no time, gritar: "Olha! Tem um homem livre ali!" Isso não estava nos meus planos antes porque tive uma lesão no joelho no último ano, fiquei sete meses e meio sem jogar. Mas quando o Mundial começou, senti que a equipe precisava de alguém que gritasse no campo. Folha - Qual o principal problema da seleção brasileira? Balboa - Acho que é a ligação entre o meio de campo e o ataque. O ruim para nós é que, mesmo com esse problema, Bebeto e Romário têm muita força e vamos ter que pará-los. Folha - O fato de o jogo ser no dia da Independência dos EUA motiva mais o time? Balboa - Sempre há muito entusiasmo com o 4 de Julho, mas é uma partida contra a melhor equipe do mundo e temos que pensar nisso primeiro. Folha - Não é frustrante ser o líder de uma seleção e nunca ter jogado num time profissional? Balboa - Não tenho frustração. Depois deste Mundial alguém vai me dar uma chance. Sei que posso jogar em qualquer time do mundo. Texto Anterior: À mídia cabe relatar os erros e os acertos Próximo Texto: Técnico quer ir aos pênaltis Índice |
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