São Paulo, segunda-feira, 4 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Segurança de Lula está desarmada

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A segurança de Luiz Inácio Lula da Silva está prejudicada por um motivo prosaico: está vencido o porte de arma dos oito homens escalados pelo PT para zelar pela integridade física do candidato.
"Nós já pedimos a renovação do porte mas até agora ele não saiu", relata José Carlos Espinoza, secretário de Lula e chefe dos petistas que trabalham na segurança do candidato. Normalmente, a equipe de Espinoza usa revólveres calibre 38.
Com o entrave burocrático ainda sem solucão, a proteção armada a Lula fica por conta da Polícia Federal (PF). Há cerca de um mês, a cúpula petista convenceu Lula a aceitar a participação da PF em seu esquema de segurança.
Lula afirma que sempre foi refratário ao emprego da segurança ostensiva, mas mudou de idéia depois do assassinato do candidato a presidente do México. "A morte dele me assustou", diz.
Precavido, o petista já está disposto a utilizar o colete a prova de bala que, apesar de sugerido pela sua segurança, foi recusado até agora. "Não vou mais discutir com quem é do ramo", declara.
Um dos pavores de plantão dos homens da segurança de Lula é o hábito do candidato de provar tudo que lhe é oferecido para comer em comícios ou reuniões. A norma básica de proteção, nesse caso, seria alguém provar o alimento antes. Lula não dá tempo para isso: avança nas guloseimas.
Uma das histórias que o petista gosta de contar é sobre o almoço que ofereceu em sua casa a Fidel Castro. O dirigente cubano não comia nada antes que um agente provasse o alimento. "A gente ficava ali, esperando o cara cair depois da primeira mordida", relata, rindo.
O contingente de homens da PF que fica com Lula varia de acordo com a agenda do candidato. Na recém-terminada caravana ao interior paulista, por exemplo, apenas dois agentes acompanharam Lula. O esquema é traçado antes por Vander Prado, outro secretário e homem de confiança de Lula.
"Eu assumo a responsabilidade", diz Prado ao explicar que a divisão de tarefas entre PF e PT é feita por ele. Prado descartou a colaboração oferecida por entidades de policiais que são ligadas à CUT. "Se fosse assim, a PF ficaria isenta de uma responsabilidade que é dela por lei", declara.
O corpo de segurança de Lula utiliza seis rádios HT, que têm alcance estimado por Espinoza em 20 km. Os agentes da PF utilizam metralhadoras quando estão com o candidato.
Apesar do esforço para convencer Lula a evitar incidentes como o de Osasco na campanha de 89 (um homem aproximou-se como se fosse abraçá-lo e esmagou um ovo em sua cabeça), Lula ainda se irrita em ser seguido.
Na última sexta-feira em Dracena (SP), por exemplo, reclamou de um segurança petista que, temendo a exposição sem proteção do candidato, começou a empurrá-lo. "Já te disse para não fazer isso", queixou-se.

Texto Anterior: Quércia não fala sobre tema
Próximo Texto: Coronel e médico coordenam proteção a Brizola
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.