São Paulo, segunda-feira, 4 de julho de 1994
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Sendas prevê queda de preços este mês

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

(continuação)
Folha - Como estão as negociações com a indústria no início do real?
Arthur Sendas - A grata surpresa é que nos últimos dez dias do junho arrefeceu muito a posição dos fornecedores. Pelo contrário, grandes empresas já estavam, para surpresa nossa, até oferecendo descontos.
Folha - Que setores já estão dando descontos?
Sendas - O setor de cervejas já se movimenta querendo reconquistar uma posição que durante três meses não teve.
Folha - E os grandes oligopólios, as indústrias de laticínios por exemplo?
Sendas - Com a diminuição das alíquotas (de importação) eles arrefeceram um pouco os preços. Mas, agora, estamos diante de uma geada e, por enquanto, ainda não sabemos o que ela vai representar. Queimou muito pasto e não se sabe qual vai ser a repercussão disso no mercado. Por enquanto está tranquilo.
Folha - Como os supermercados operavam com a inflação alta e como se preparam para a nova realidade?
Sendas - Praticamente trabalhávamos até com margem operacional negativa (prejuízo). O governo deu de março até agora, com a URV (Unidade Real de Valor), tempo para que as indústrias e supermercadistas se adaptassem. Com a URV, os operadores passaram a tirar os encargos financeiros. O varejo demorou a se compor. É um setor muito competitivo. Há 35 mil lojas de supermercados no Brasil e as empresas vendem menos do que vendiam há quatro anos. Creio que, agora, a partir de julho, vamos ter até uma queda de preços em relação a junho.
Folha - Quanto o sr. acha que os preços devem cair?
Sendas - Creio que na área de alimentos industrializados devemos ter uma queda no mês de julho de 2% a 3% comparando com os preços em URV em junho. Isto de modo bem conservador.
Folha - Que setores não estariam ainda com os preços alinhados?
Sendas - No momento estão todos alinhados, menos os hortifrutigranjeiros por causa da geada. Mas qualquer oscilação que possa existir nos preços nesta área de produtos sazonais, nós levaremos ao conhecimento do governo antes de aumentar.
Folha - Quais setores são mais afetados, em termos de preço, pela importação? Em quais elas não funcionam?
Sendas - O governo abriu a importação da carne. Este produto, no Brasil, tem um dos preços mais baixos do mundo. Não vemos como a importação de carne pode influir no mercado. Argentina e Uruguai abastecem muito com arroz, feijão preto. Isto tem ajudado muito o mercado.
Folha - Qual é a margem operacional (lucro) para que os supermercados sejam viáveis com inflação baixa?
Sendas - Tem que trabalhar na última linha (depois de impostos e despesas) com 2% a 3%. Nos anos de 1990 e 1991, os resultados foram negativos. Em 1992, já foi positivo em cerca de 1%. Com o real e o aumento de vendas, o nosso resultado pode melhorar. Acredito que as vendas devem crescer de 10% a 20% no segundo semestre, comparando com 1993.
Folha - O sr. teme que os supermercados se transformem mais uma vez nos vilões da inflação?
Sendas - Não, não acredito. Os produtos industrializados vão compensar qualquer aumento de preço sazonal. Os produtos industrializados estão muito engordurados e os aumentos sazonais serão neutralizados. Não posso ver como o setor possa contribuir para aumentar a inflação.
Folha - O sr. acredita, como o ministro Rubens Ricupero, que quem praticar preço alto vai quebrar?
Sendas - Eu acho que quem não tiver preço não vai ter condições de vender. Hoje a gente sabe que a dona-de-casa quando entra em uma loja não vê marca. Ela vê o preço e a qualidade do produto. Então, na realidade, quem não tiver condições de competir vai perder mercado.
Folha - O sr. acredita que as declarações de Levy Nogueira, presidente da Abras, de que os preços aumentariam na entrada do real, pioram a imagem pública do setor?
Sendas - Por questões éticas, preferia não reponder. Mas a maneira de falar determinadas coisas e em determinados lugares... Sinceramente, durante os quatro anos em que presidi a Abras sempre procurei, antes de me pronunciar sobre qualquer assunto, levar os problemas para as autoridades. Qualquer coisa que fosse acontecer no mercado, o governo já tinha conhecimento anterior.
Folha - Os supermercados se beneficiam com a inflação alta?
Sendas - O supermercado espelha a inflação que está ocorrendo no país. Ele é o final da linha. Supermercado não forma custo, ele repassa. Quem forma preço é o fornecedor. Mas é no supermercado que a dona-de-casa sente os reflexos da inflação. Os supermercados são vítimas da inflação. Quando houve inflação de 12%, em 1973, o que quebrou de bancos foi uma grandeza. Com o aumento da inflação qual foi o setor beneficiado? Foi o setor de bancos. No comércio e supermercados muitas empresas desapareceram com o aumento da inflação.
Folha - As promoções vão ser mais difíceis depois do real?
Sendas - Agora, vai ficar melhor. Quem comprar bem, vai vender bem. Agora, a inflação, que tumultuava e não dava percepção exata do preço, não existe mais. Os preços vão ficar mais transparentes e o consumidor vai ter condições de memorizar melhor os preços.
Folha - Como o sr. vê o plano econômico no longo prazo?
Sendas - Eu vejo muita firmeza na equipe econômica e, até o fim do ano, não teremos problemas de inflação. Mas o candidato que vencer as eleições não terá outro caminho que não o de seguir com o plano. As medidas que não foram tomadas pelo Congresso na revisão constitucional terão que ser adotadas no final do ano ou no início do ano que vem .
Folha - O sr. já escolheu seu candidato?
Sendas - Não, o candidato vai depender de sua linha econômica. Vamos ter que analisar. Ainda não me defini.

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