São Paulo, segunda-feira, 4 de julho de 1994
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Beastie Boys

DA "SPIN"

Os Beastie Boys estão com saudade de casa. Criados nas ruas de Nova York (Costa Leste dos EUA), onde começaram sua mistura de hip-hop e punk rock, eles hoje moram em Los Angeles (Califórnia, Costa Oeste) e vivem cruzando o continente.
"É como se nós não estivéssemos realmente aqui", diz Adam "Ad-Rock" Horovitz, 27, explicando o dilema do grupo com Los Angeles.
"A coisa ainda está no ar. É claro que eu tenho me sentido no ar desde 1982", completa.
"Às vezes é legal. Mike tem uma piscina em casa, eu também, e isto é interessante", diz Adam "MCA" Yauch, 29. "Mas é como se eu sempre estivesse prestes a voltar para Nova York."
Yauch começa a brincar sobre o quarto e último disco do grupo –"Ill Communication"– e o quanto a questão Nova York-Califórnia aparece nele.
"Então o que você está dizendo é que L.A. é como uma estação espacial, certo? E que nós estávamos viajando da Lua para Plutão e ficamos presos aqui. Aí algúem apagou nossas mente e não sabemos nem de onde viemos", viaja Yauch.
"Neste último álbum, nós estamos tendo lampejos de memória, tipo interlúdios inconscientes, é isso?"
Ele faz uma pausa para causar efeito e completa: "Concordo com você".
Michael "Mike D" Diamond, 28, se diverte com a viagem. "Fascinante Adam, fascinante", diz concordando.
O exílio espontâneo de seis anos em Los Angeles parece estar fazendo bem aos Beastie Boys. Eles parecem estar mais maduros desde o sucesso de "Check Your Head" (1992), onde tocavam os próprios instrumentos e levavam mensagens responsáveis.
As conquistas dos Beastie Boys em L.A. não são poucas. A principal delas é a gravadora Grand Royal (distribuída pela Capitol), que além deles lançou alguns artistas alternativos.
Tem também uma revista hilária que leva o mesmo nome do selo, uma participação na marca de roupa skatista X-Large e participação em campanhas de caridade: Tibete, Aids, o ativista indígena preso Leonard Peltier.
Para completar estão apoiando o Lollapalooza. "Nós dissemos que só participaríamos se trocassem o cara que faz furos por um daqueles jogos de acertar água na boca do palhaço", conta Yauch.
Dois deles também adotaram a vida de dedicados esposos. Horovitz com a atriz Ione Skye e Diamond com a diretora de cinema Tamra Davis.
Yauch saiu de um longo relacionamento recentemente e adotou o budismo.
Mas as marcas de Nova York estão por toda a parte em "Ill Communication". A prova disso é a nostalgia dos clubes noturnos de Manhattan do início dos anos 80, época em que punks e hip-hopers tinham algo mais em comum além das drogas.
"Eu sou o primeiro a admitir que nós somos totalmente dependentes de uma época e de um lugar específicos", diz Mike D.
"Para nós, assistir a um show em algum de nossos clubes favoritos é como uma força necessária em nossas vidas."
Embora tenham perdido seu "crédito de rua" entre jovens negros depois de um processo na época de "Liscensed to Ill", os Beastie Boys não estão preocupados com aceitação.
Ao contrário, eles usam o hip-hop para questionar a obsessão por uma identidade de grupo.
"Eu posso ser meio estranho", diz Mike D, "mas o negócio é estar sempre redefinindo sua identidade. O segundo número de nossa revista era quase todo baseado no que falaram da primeira. Isto é o melhor que poderia estar acontecendo –uma crítica contínua do próprio grupo".
Até agora eles conseguiram suportar o sucesso, mas não sabem por quanto tempo vão levar esta vida surreal de pop star.
"L.A. é uma cidade construída de fantasias", diz Mike D. "Agora nós temos nossas pequenas fantasias –o estúdio, a revista, é tudo fantasia. Mas Los Angeles é isso: pessoas criando suas próprias fantasias."

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