São Paulo, segunda-feira, 4 de julho de 1994
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Disco para ler e gibi para ouvir

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sinergia é o nome do jogo: gibi que vira filme que vira videogame que vira desenho etc. etc. Geralmente, só serve para alguém em algum lugar ganhar muita grana.
O dono do personagem ganha bastante, os licenciados por ele para explorar o personagem também ganham bem.
Não se resume a isso o projeto "Lost in America". Não é um disco que virou gibi –é mais complicado, conceitual e potencialmente divertido do que isto.
A história é assim : Alice Cooper é fã do gibi "Sandman". Ele sempre teve uma queda pelo fantástico. Tanto, que sua primeira fama nos anos 70 veio mais pelos shows grand-guignol, cheios de sangue e efeitos especiais, do que pela música.
Quando chegou a hora de tia Alice gravar mais um disco, ele resolveu chamar Neil Gaiman, criador e roteirista do Sandman, para colaborar
"Lost in America" é o resultado: um disco que cutuca conceitos caros a Gaiman e Cooper, como alienação, alucinação, morte e loucura –tudo que faz a vida divertida, enfim.
Nos Estados Unidos, o disco saiu acompanhado de um gibi. Mais duas revistas virão, quando saírem os próximos singles.
Claro que nada disso valeria picas se o som fosse uma baba. Não é, pelo menos o primeiro single, uma volta às raízes para Alice. Fazia tempo que ele não soava tão cru e seu senso de humor não era tão ácido.
A letra é de chorar de rir. "Não posso ir para a escola porque não tenho revólver. Não tenho revólver porque não tenho emprego. Não tenho emprego porque não fui para a escola. Então estou procurando uma garota com um emprego e um revólver."
"Lost in America", o disco, está saindo por aqui. A revista em quadrinhos não tem previsão para lançamento. Fique de olho nas lojas. E reserve seu gibi nas importadores.
Enfim
Faz uns quatro anos que reclamo do "MTV Raps" –o tempo exato da existência do canal. Primeiro, porque a MTV tinha desperdiçado a chance de botar um negro no ar. Depois, porque estava muito chato. Depois, porque acabou. Depois, porque ia ao ar sem tradução. Depois, porque prometeram que ia voltar e não voltou.
Como quem espera sempre alcança, acaba de estrear o "MTV Raps" como eu sempre exigi: traduzido, misturado com grupos brasileiros, apresentado por uma cara negro (chamado Primo, com convidados especiais e tudo mais. Genial.
Não que eu vá assistir –nem gosto muito de rap. Agora posso confessar: essa perseguição toda foi de pura birra.

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